Tem focinho de leão e cauda de leão, e tal como a adivinha não é leão, é leoa. A XI PhotoEspaña, que decorrerá de 4 de Junho a 27 de Julho, é um festival de «artes visuais» contemporâneas, mais do que o seu primeiro nome parece indicar.
Número 125 · 7 de Maio de 2008 · Suplemento do JL n.º 981, ano XXVIII
A edição de 2008 é dedicada a Portugal e comissariada pela primeira vez por um estrangeiro, no caso o português nascido em Moçambique Sérgio Mah, professor de História da Fotografia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e no Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual, que foi responsável pelas duas únicas edições da PhotoLisboa, em 2003 e 2005.
A PhotoEspaña, tal como a recente BESphoto, em Portugal, não se ocupa apenas da fotografia de reportagem ou documental. Mesmo os instantâneos são alvo de preparação ou de tratamento posterior. Os originais de algumas fotos poderão nem sequer ter sido tiradas pelo autor dos trabalhos apresentados. Na verdade, o nome completo da PhotoEspaña é «Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais». Está aí tudo. No evento de Madrid, que é considerado o mais importante no seu género na Europa (600 mil visitantes em 2007), a fotografia (e o vídeo) são meios para chegar a algo mais do que captar o momento.
A secção oficial decorrerá assim sob o tema Lugar (há também um Festival Off, que «reunirá as melhores propostas apresentadas ao certame pelas principais galerias de arte de Madrid»), escolhido por Sérgio Mah, cujo mandato como comissário do Festival espanhol dura até 2010.
Na linha das tendências da arte contemporânea que interpelam identidade, origem e globalização, o Lugar não é encarado por Sérgio Mah como conceito espacial ou físico, mas como «um espaço vivido, em que a experiência do fotógrafo tem uma importância fundamental», segundo um texto de apresentação à imprensa do evento. «Discutiremos questões do nosso tempo, mas olhando para a história do fotógrafo e da fotografia. Discutindo a imagem do lugar, mas também o lugar da imagem», explicou o comissário português na apresentação do evento em Madrid, em Abril passado.
Procurando prosseguir o seu processo de expansão e internacionalização (em 2007 foi a França), a PhotoEspaña estender-se-á este ano pela primeira vez a outra cidade espanhola, Cuenca, e a Portugal, com exposições no Museu de Portimão e no CCB-Museu Colecção Berardo.
As mostras em Portugal são patrocinadas pelo Ministério da Economia e da Inovação, através de várias entidades, mas também há apoios do Banco Espírito Santo e do Instituto Camões.
Face ao perfil do evento espanhol, as escolhas para representar Portugal na PhotoEspaña recaíram sobre artistas plásticos ou fotógrafos para quem a fotografia ou vídeo são instrumentais para aquilo a que se propõem, fazer arte.
A dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva, que com as suas instalações de vídeo se tem concentrado na «construção de uma filosofia experimental acerca do transitório», segundo a fórmula de Natxo Checa, estará presente num espaço do Matadero Madrid com Horizontes de acontecimentos, em que se reúnem os seus últimos trabalhos «destinados a perfilar uma metafísica do lugar».
Uma outra dupla portuguesa, Ana Paula Paiva e Fernando Martinho, participa na colectiva De viagem, em que juntamente com mais quatro fotógrafos apresenta os seus «diários de viagem».
Além destes, Augusto Alves da Silva e Pedro Barateiro participam na exposição colectiva Lugares comprometidos. Topografia e Actualidade, em que os fotógrafos «reflectem sobre as mudanças que sofreram a representação topográfica do lugar».
Em Madrid, no Centro Cultural Conde Duque, estará também o BESphoto, com uma exposição dos trabalhos de Miguel Malhão, Eurico Lino do Vale e Miguel Soares, três finalistas do prémio de 2008.
O Museu de Portimão apresenta a exposição do fotógrafo Ignasi Aballí e o Museu Colecção Berardo a mostra Utopia, com obras de Frederic Chaubin, Gayle Chong Kwna, Arni Haraldson, Mathieu Pernot, John Riddy, Stuart Whipps e Amir Zaki.
Ao todo, a PhotoEspaña será constituída por 69 exposições, 32 na secção oficial e 37 no festival Off, com obras de 230 artistas e criadores de 38 nacionalidades, diz o dossier de imprensa.