Miguel Azguime e Paula Guimarães
«Uma janela aberta sobre a música portuguesa»
Entrevista a Miguel Azguime e Paula Guimarães, ambos compositores e directores da Miso Music Portugal e fundadores do Centro de Informação da Música Portuguesa, centro on-line disponível há um ano.
Número 118 · 24 de Outubro de 2007 · Suplemento do JL n.º 967, ano XXVII
«A música portuguesa contemporânea é praticamente desconhecida lá fora», reconhecem Miguel Azguime e Paula Guimarães, ambos compositores e directores da Miso Music Portugal desde 1987. Para ultrapassar essa situação, fundaram, em 2001, o Centro de Informação da Música Portuguesa, disponível há um ano. Trata-se de um site bilingue, em português e inglês, com informação sobre compositores e intérpretes dos séculos XX e XXI, diversas obras, documentos de texto, vídeo e áudio. E já conseguiram muitos progressos. O Instituto Camões, através do seu Centro Virtual, quis afirmar o reconhecimento deste trabalho de divulgação da música portuguesa desenvolvido pelo Centro de Informação. Prova disso é o protocolo recentemente celebrado.
Para além da vossa actividade como músicos, a Paula, flautista e compositora, e o Miguel, percussionista e compositor, têm desenvolvido um intenso trabalho de divulgação da música contemporânea e dos compositores portugueses como fundadores do Centro de Informação da Música Portuguesa. Como surgiu a ideia da criação deste Centro on-line?
Miguel Azguime (M.A.) - Na verdade, o Centro está disponível há um ano, mas foi um projecto que começou em finais de 2001. A Miso Music Portugal, desde 87, iniciou uma série de iniciativas no sentido de promover, dar a conhecer e fomentar a criação musical portuguesa contemporânea. E, nesse sentido, surgiram o Festival Música Viva, um projecto editorial, um concurso de composição, acções pedagógicas várias, seja para profissionais, seja para o público em geral, no sentido de dar a conhecer uma área musical que muitas vezes é mal conhecida, e a própria produção e promoção de concertos. De facto, surgiu-nos como evidente já há muitos anos, a ideia e a necessidade para a criação de um Centro de Informação Musical em Portugal. Durante dez anos, organizámos regularmente uma emissão radiofónica, na Antena 2 da RDP, sobre uma espécie de actualidade musical, nomeadamente com destaque para a música portuguesa. Em consequência desse trabalho, recebemos muita informação, partituras, gravações de outros países, da Austrália, aos Estados Unidos, à Bélgica, à Finlândia, à Hungria, justamente através dos chamados centros de informação musical ou mic\'s - music information centre. Houve várias conversas com ministérios, ministros, secretários de estado, directores de serviço, no sentido de implementar o Centro, porque entendemos que este tem características de serviço público e, à partida, deveria ser feito por uma entidade estatal, pública. E, portanto, nós, Miso Music Portugal, candidatámo-nos no sentido de obter os financiamentos necessários para criar o Centro de Informação da Música Portuguesa. Criar o Centro pressupunha partir da criação de uma base de dados, de um trabalho musicológico aturado de levantamento dos catálogos dos compositores, da actividade dos compositores, da discografia, da existência ou não de partituras, da disponibilização de textos críticos e de um levantamento bibliográfico. É um trabalho imenso, que não tem fim, aliás, nunca estará pronto. A base de dados estaria associada a um site dinâmico e a um serviço que fosse sobretudo prestado através da Internet. Em 2001, quando fizemos o projecto, as coisas não estavam tão evoluídas quanto hoje, mas já nessa altura achámos indispensável que esse projecto incluísse uma dimensão multimédia, que permitisse colocar não só partituras mas fragmentos áudio e entrevistas em vídeo. Portanto, o site e a base de dados permitem classificar todo o tipo de informação do ponto de vista dos novos suportes, imagem, filme, fotografia, áudio, programas de computador, software, tudo é passível de ser classificado e mostrado através do site, dependendo da vontade dos autores. Criámos, por conseguinte, uma base de dados ligada a um site dinâmico, o que significa que as pessoas têm de perguntar, têm de fazer pesquisas, perguntar à base de dados o que querem ver.
Quais são os objectivos do Centro de Informação?
M.A. - Existem três grandes objectivos. O primeiro tem a ver com o levantamento patrimonial, sobretudo relativamente à primeira metade do século XX português, uma vez que a nossa área é a música contemporânea. A primeira metade do século XX português está muito carenciada em termos de conhecimento e de trabalho musicológico e a primeira falha é que nem se sabe o que existe. Portanto, não tínhamos conhecimento, até à criação do Centro de Informação da Música Portuguesa há um ano, do que é que efectivamente existiu na primeira metade do século XX. Um outro aspecto está mais virado para o futuro e tem a ver com a promoção, a divulgação, a circulação dos compositores portugueses, e fundamentalmente, daqueles que estão vivos e que se encontram em plena actividade. Um terceiro objectivo muito importante é a internacionalização da música portuguesa, porque entendemos que essa é a grande lacuna. As pessoas não conhecem o que se faz em Portugal, porque o nosso país é muitas vezes ignorado nas grandes rotas da circulação musical, pelo menos na Europa, e é pena porque há valores tão grandes como nos outros países. De facto, aqui o problema é o da política de internacionalização, que acho que é deficiente em Portugal e, portanto, este é um contributo seguramente importante nesse sentido. É por isso que o site é evidentemente bilingue e a maior parte dos textos, incluindo todas as entrevistas, está traduzida para inglês. O nosso objectivo é que o site seja plenamente português-inglês e que, portanto, sirva esse propósito. Posso então dizer que há um alvo de público razoavelmente alargado.
Qual é o público-alvo em concreto deste Centro? A quem se destina?
M.A. - À partida é toda a gente. Melómanos, curiosos e profissionais, sejam músicos, programadores, organizadores, musicólogos e investigadores. Os utilizadores podem consultar simples listagens dos compositores portugueses e dos intérpretes actualmente em actividade que se dedicam à interpretação da música portuguesa do século XX. Há a questão da discografia, a primeira discografia portuguesa que existe quase completa sobre a música portuguesa, e as entrevistas com compositores, mais de cinquenta, também disponíveis on-line.
Quem é que está representado no Centro?
M.A. - Neste momento, todos os compositores na área da música erudita e experimental estão representados no Centro de Informação, desde o Luís de Freitas Branco até aos nossos dias, portanto, séculos XX e XXI. Mas isso não é um limite do Centro de Informação, é apenas um limite que nós próprios estabelecemos por uma questão financeira e humana, mas que a qualquer momento se pode alargar no tempo e no género musical. Como a nossa área é fundamentalmente o século XX, conhecemos a realidade, o passado e as pessoas que estão neste momento em actividade nessa área. Penso que se me for meter no jazz, por exemplo, vou fazer asneira. Em relação aos séculos anteriores ser-me-á mais fácil, porque está dentro de uma linhagem musical da qual, de certa forma, faço parte, mas iríamos precisar de mais pessoas. Para já está confinado a este século que, mesmo assim, são cento e tal anos de muita música portuguesa. Os compositores mais jovens estão representados desde que tenham meia dúzia de obras publicamente apresentadas. Um compositor com uma peça não está lá. Vamos deixá-lo escrever.
Isso tem a ver com os critérios?
M.A. - Sim. À partida, não há da nossa parte critérios de ordem estética ou qualitativa a partir do momento em que as pessoas apresentem o seu trabalho e este seja reconhecido publicamente. O processo é totalmente democrático e transparente. Tudo o que nos enviarem é classificado, ordenado e colocado na base de dados e, uma vez que está na base de dados, está on-line.
A obra, a música, a composição, é que são o centro deste trabalho, não são propriamente as pessoas. Claro que as coisas estão associadas a pessoas e, por extensão, uma obra está sempre associada a um compositor. Tentamos que os intérpretes toquem a música portuguesa, fazemos encomendas ou damos oportunidade aos compositores e aos intérpretes para apresentarem esse trabalho através da temporada de concertos que temos, ou através do Festival Música Viva. De facto, há aqui uma espécie de acção concertada no sentido de cimentar, divulgar, incentivar.
Como é feita diariamente a actualização da informação?
M.A. - Temos pessoas a trabalhar permanentemente no Centro de Informação e que constantemente recebem informações sobre a circulação das obras e sobre o que está a acontecer na música portuguesa. O Centro de Informação é uma espécie de janela aberta sobre a música portuguesa, sobre o passado, o presente e o futuro, visto que o lado promocional tem sempre a ver com o futuro; é uma espécie de prospecção, de mercado, de possibilidades para os músicos, para os compositores. Há uma actualização permanente dos catálogos dos compositores e das próprias biografias.
Um outro aspecto importante é a questão das partituras, que muitas vezes não se sabe onde estão e, portanto, é preciso fazer um trabalho quase de editor no sentido de disponibilizar as obras. Por exemplo, se um quarteto de cordas alemão nos contactar porque quer quartetos de cordas portugueses de um determinado compositor, nós podemos disponibilizar as partituras e, nesse aspecto, estamos a assumir um pouco a função de editor e a funcionar um bocadinho como Itunes, seja para as partituras e, futuramente, para as gravações. Como trabalhamos sobretudo virtualmente, não é um objectivo, é uma estratégia, é um método de trabalho, na medida em que, declaradamente, não temos condições, pelo menos até nova ordem, de ter um espaço aberto ao público. Optámos mesmo pela via do virtual para que as pessoas possam consultar os documentos on-line, ou fazer download das partituras…
Tirando partido de todas as vantagens das novas tecnologias…
M.A. - Exactamente. Imprimir as partituras. Claro que se for uma obra de orquestra que é uma partitura em formato A2, que as pessoas não podem imprimir, podem solicitar ao Centro de Informação. Este é o serviço que nós, para além da base de dados, queremos prestar à comunidade em geral e aos músicos em particular, que é ajudá-los no trabalho editorial das partituras, mas também prestar informações ou enviar gravações ou partituras se elas forem solicitadas.
Quais são os apoios financeiros de que dispõem?
M.A. - Apenas o Ministério da Cultura - Instituto das Artes, que agora se chama Direcção Geral das Artes, e o Instituto Camões. Já tivemos o apoio pontual da Fundação Calouste Gulbenkian. Agora temos Cascais que se quer associar ao Centro de Informação, nomeadamente através da Casa Museu Verdades de Faria, onde está o espólio do Lopes Graça.
Paula Guimarães (P.G.) - Mas de um modo geral, não temos verbas que se coadunem com o trabalho que tem de ser feito, com a extensão do trabalho. Se formos comparar este Centro de Informação, único em Portugal, com qualquer outro centro de informação europeu, o nosso orçamento corresponde a um centésimo do dinheiro que eles têm para fazer um trabalho mais ou menos equivalente. É óbvio que não pode ser equivalente. Esforçamo-nos imenso para as coisas acontecerem. É uma situação muito complicada para nós. Estamo-nos a bater para conseguirmos melhorar e já conseguimos qualquer coisa.
O que é que já conseguiram?
M.A. - Já conseguimos que o Centro de Informação exista. E isso é o mais importante.
Notam já progressos de internacionalização da música portuguesa com a criação deste Centro?
M.A. - Sim, notamos. Já há muitos projectos. Eu acho que vai demorar algum tempo, meia dúzia de anos, e penso que dentro de alguns anos vai-se falar da música portuguesa como antes e depois do Centro de Informação. Isto não é muito modesto dizer, mas acho que é, de facto, a realidade, na medida em que não se sabia o que existia, era uma carência que era sentida por toda a gente no meio musical em Portugal. Temos uma média de 200 acessos distintos diários ao Centro de Informação.
Mas, deveríamos, de facto, ter mais pessoas a trabalhar no Centro para haver maior rapidez nas informações. A questão das partituras levanta muitos problemas. Era preciso termos várias pessoas a trabalhar, copistas para copiar as partituras.
P.G. - Por acaso, com os compositores mais recentes, como muitos deles já usam as novas tecnologias e os programas informáticos, torna-se mais fácil, uma vez que nos enviam as partituras em formato digital. Existem compositores que querem que as suas partituras sejam distribuídas pelo Centro de Informação. A nível de rádios na Alemanha, que conhecemos bem, existem vários programas sobre compositores portugueses com informação que eles vão buscar ao Centro de Informação. Em Espanha, várias universidades e investigadores solicitam-nos também informação.
M.A. - Há dois meses fomos contactados por um director de um grande festival na República Checa em Praga para ver as partituras. Compilámos uma série de informação de quinze compositores que foram aqueles que ele nos pediu para ele agora avaliar e, desses quinze, em princípio, cinco serão programados para o ano em Praga.
M.A. - Claro. Aliás, o Centro de Informação, como todas as outras actividades da Miso Music Portugal, reflecte carências que nós pessoalmente sentimos. Isto é tipicamente português. Normalmente, o sistema vai muito atrasado em relação às pessoas. Nos outros países há uma análise da realidade, das insuficiências, do que deve ser feito e são tomadas medidas. Em Portugal, infelizmente isso não acontece. E, portanto, passa muito pela iniciativa própria e individual. O Centro de Informação é, como disse, um serviço público, de interesse nacional seja para Portugal, enquanto tal, seja enquanto país no meio do mundo e dos outros, ou seja, em termos de interesse internacional. Não é tão evidente assim encontrar instituições que entendam que, de facto, este é um trabalho fundamental para Portugal e para a cultura musical portuguesa.
Têm também parceiros internacionais?
M.A. - Temos. Temos uma parceria importante que é a International Association of Music Information Centres. Daí que o site, o url do site seja www.mic.pt, porque tem a ver com music information centre e porque, no fundo, fazemos parte de uma grande rede dos centros de informação musical ou dos mics, music information centre. Dessa rede fazem parte cinquenta e tal membros no mundo inteiro e nós aprendemos muito com eles. Fomos o último centro de informação até à data a ser criado e, como tal, é o mais actual, o mais moderno e tecnicamente mais evoluído em todos os sentidos.
P.G. - Beneficiámos com o atraso, portanto.
M.A. - Claro. E temos coisas que mais nenhum outro tem, mostramos coisas que ninguém mostra e somos, de facto, neste momento, o mais avançado. Essa rede tem um circuito promocional para a música portuguesa, com concertos que organiza anualmente, com distribuição de informação sobre compositores portugueses e partituras. A própria newsletter que estamos pouco a pouco a elaborar, que está cada vez mais completa, tem uma vertente internacional e enviamo-la regularmente com informação sobre música portuguesa. Portanto, é uma forma de pôr a circular aquilo que se vai fazendo em Portugal. De cada vez que saem novas obras informamos os nossos parceiros. Isso tem interesse porque esses parceiros, por sua vez, também organizam actividades e concertos. É uma rede que está ligada a uma coisa que é o music navigator, uma indexação de certos campos das bases de dados que existem nestes vários centros de informação, incluindo o Centro de Informação da Música Portuguesa, e que permite que o nosso Centro de Informação em Portugal seja pesquisado a partir da Austrália, ou a partir dos Estados Unidos. Portanto, noutro país, através desse protocolo, que implicou uma plataforma informática de normalização de dados para que as bases de dados pudessem comunicar, é possível pesquisar fora do próprio site por outros mecanismos.
E as pesquisas…
P.G. - Em termos de pesquisas, há certas pessoas que vão lá em passeio e quando se deparam com uma página de pesquisas por instrumentação ficam completamente desarmadas, porque aquilo não é um site de passeio. Claro que também podem consultar aspectos mais simples, como a discografia onde se vêem todas as capas dos discos. E é muito engraçado porque se vê a evolução do design de 1954, que é o primeiro CD que temos lá, até hoje, ou então as entrevistas onde se pode ver a cara do compositor. Tudo o que são pesquisas não tem interesse nenhum para uma pessoa que vá passear ao site, porque se não pesquisar nada também não vê nada. E, por isso, há pessoas que refilam e dizem que aquilo é complicadíssimo.
M.A. - De facto, as pessoas não se apercebem que existe uma série de listagens debaixo de cada foto dos compositores e é possível ter acesso directo a uma série de listagens sobre aquilo que é pertinente. No fundo, é aquilo que as pessoas veriam num site de um único compositor. Pode-se pesquisar em cerca de trinta campos e cruzar informação.
P.G. - E temos sete mil obras. É preciso pesquisar para obter resultados.
M.A. - Neste momento há uma coisa nova que está disponível há um mês, há pontos de interrogação para cada campo da pesquisa e, passando com o cursor por cima, ele clarifica, mas só está em português. E está em português no inglês, o que deve perturbar todos os estrangeiros que lá forem, mas é algo que estará resolvido brevemente, essa espécie de ajuda às pesquisas. Por isso, nunca será um trabalho acabado. Não há um ponto final nos dados, como não há um ponto final no próprio desenvolvimento. A base de dados encomendada de raiz está permanentemente em mutação. Não estamos presos a um esquema porque comprámos uma base de dados e dali não podemos sair. Não. Vamos sempre modificando essa base de dados.
Isso é um aspecto que gostariam de ver concretizado. Que outros projectos é que têm? O que destacam em termos de ideias?
M.A. e P.G. - Temos uma lista imensa de uma série de coisas que gostaríamos de implementar… Como, por exemplo, serem os próprios compositores, nalguns campos, a pôr a informação. Era interessante que os compositores pudessem actualizar a base de dados. Era uma forma de os compositores se envolverem no próprio Centro. Há muitos aspectos de ordem técnica, como a questão da música on-line, uma espécie de Itunes, onde as pessoas pudessem comprar. E isso é uma implementação da base de dados que queremos fazer.Em relação às partituras, estas estão disponíveis on-line, mas não temos ainda uma listagem de todas as pessoas que fizeram download.A base de dados tem dois níveis: tem um nível de acesso onde não precisa de nenhuma inscrição e tem outro mais avançado. Se não se inscrever e não receber a password, não consegue ter acesso a uma série de coisas. É gratuito, mas é uma forma, no fundo, de sabermos que essas são as pessoas que estão interessadas no nosso trabalho.
Quantos são neste momento os utilizadores registados?
M.A. e P.G. - Neste momento são quatro mil e tal os utilizadores registados. Por exemplo, em termos de estatísticas, temos de fazer algumas alterações na base de dados para saber exactamente, através de um pequeno questionário, quem são os utilizadores e o que procuram.
E a ligação com o Centro Virtual do Instituto Camões, como é que surge?
P.G. - Surgiu para potenciar, a nível sobretudo internacional, o acesso ao Centro de Informação. As pessoas começam a conhecer o Centro de Informação, é sempre um núcleo na área da música. Enquanto que o Centro Virtual Camões tem um público muito mais abrangente e alargado, é mais um acesso, e um acesso muito importante, ao Centro de Informação e à informação que lá está, sobretudo. Para o Instituto Camões penso que também é uma vantagem…
Uma vez que divulga e promove a cultura portuguesa…
P.G. - Exactamente.
M.A. - Com garantias de estar sempre actualizado, a não ser que o Centro de Informação desapareça, mas não está previsto. É preciso eu andar aí morto, descalço, debaixo da ponte, para o Centro de Informação deixar de existir. Custou tanto a pô-lo em pé, foram tantos anos a pensar que era importante fazê-lo…
P.G. - É aliás um trabalho que muitas pessoas não acreditavam que fosse possível fazer em tão pouco tempo e com tão pouco dinheiro.
M.A. - Tecnologicamente, a plataforma que usámos também foi pensada nesses termos, porque temos muitos colaboradores externos, seja em Linux, seja em Windows, seja em Macintosh, a aplicação funciona em todas as plataformas. Através da Internet, carregamos, modificamos e vemos os dados e comunicamos com as outras pessoas que trabalham no Centro de Informação. É por isso que é virtual, tal como o Centro Virtual Camões, para permitir que as pessoas possam permanentemente estar a trabalhar, a completá-lo e a modificá-lo.
Voltando ao protocolo… Quais vão ser as vantagens para ambas as partes?
M.A. e P.G. - O protocolo com o Centro Virtual Camões é um protocolo que dá acesso à informação que está na base de dados do Centro de Informação. Se fizermos uma pesquisa mais simples para sabermos quais são os compositores portugueses, essa informação está no Centro Virtual Camões. E, depois, só num segundo nível de pesquisa é que somos conduzidos para o site do Centro de Informação. Um nível mais simples tem a ver com mostrar biografias, fotografias dos compositores e dos intérpretes, e isso pode ser consultado no Centro Virtual Camões. Se quisermos fazer uma pesquisa mais profunda aí entramos, de imediato, sem nos apercebermos, dentro do Centro de Informação, e o utilizador passa de um para outro. Estamos a trabalhar nisso neste momento. E o objectivo é esse.
Então vai estar disponível para breve?
M.A. - Eu espero que sim. Para muito breve.
O protocolo foi assinado quando?
M.A. e P.G. - O protocolo foi assinado em Agosto de 2006. Está a ser implementado por nós, pelo Instituto Camões e pelos informáticos que trabalham connosco e que também vão trabalhar com o IC e com os seus informáticos. Em Janeiro foi discutido o contrato com os informáticos e o acordo propriamente dito foi decidido em Março, e penso que está agora a ser implementado. Devido a uns pequenos problemas, o projecto atrasou e está a ser retomado agora.
É muito interessante estar ligado ao Centro Virtual Camões também por uma razão puramente institucional, como é evidente. Porque, no fundo, o Centro Virtual Camões estar interessado pela informação disponibilizada pelo Centro de Informação significa que esse interesse é uma espécie de corroboração da validade dessa informação. O mesmo se passa com a Fundação Calouste Gulbenkian, uma vez que trabalha todos os dias com o Centro de Informação. De facto, o Centro de Informação é um instrumento de trabalho para muitas pessoas e para muitas instituições. Por enquanto, o protocolo com o Instituto Camões é o único protocolo que temos com uma instituição que percebeu o âmbito deste projecto. Outras instituições poderiam seguir-lhe o exemplo. A nós espanta-nos que o Ministério da Cultura e que o Instituto das Artes, que até dão dinheiro para este projecto, não usem o projecto no site deles para divulgar a cultura portuguesa. Podiam fazer o mesmo que o Instituto Camões. Mas há um desaproveitamento, há um desinteresse. De facto, quando há instituições como o Instituto Camões, que acreditam nas coisas e se tornam parceiros dos projectos, é fundamental, porque os projectos deste âmbito precisam do lado institucional.