- Resultados de inquérito conduzido no âmbito do estudo Valor Económico do Português, encomendado pelo Instituto Camões
A sociabilidade e o trabalho estão no topo da lista das razões que levam muitas pessoas no mundo a procurar aprender a Língua Portuguesa (LP), segundo os resultados preliminares do estudo Valor Económico do Português, que está a ser levado a cabo pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em consequência de uma encomenda do Instituto Camões (IC).
Número 133 · 17 de Dezembro de 2008 · Suplemento do JL n.º 997, ano XXVIII
O inquérito, efectuado pela equipa do ISCTE junto de 2.500 aprendentes de LP «de muitas origens diferentes» nas universidades e escolas espalhadas pelo mundo em que existem centros de língua e leitorados apoiados pelo IC, revelou que 60,9% dos respondentes considera que «Aprender outras línguas» é «importante para o futuro», daí terem escolhido o Português.
Na ordem de motivações e objectivos pessoais, seguem-se «Aprender mais sobre a Cultura Portuguesa» (39,1%), «Ganhar mais cultura» (32,9%) e «Encontrar ou progredir no meu emprego» (29,1%), segundo os resultados do inquérito, que permitia a escolha de mais do que uma resposta (Quadro 1).
Estes resultados foram divulgados em Novembro passado num texto de apoio à palestra proferida por José Paulo Esperança, membro da equipa de investigadores do ISCTE, no 6º Congresso da EFNIL (Federação Europeia das Instituições Nacionais para a Língua), em Lisboa, durante o qual aquele professor universitário revelou que a LP representa 17% do PIB português, dois pontos acima de idêntico indicador calculado para o espanhol em Espanha.
O inquérito colocou também duas questões mais específicas sobre o contexto do uso, actual e futuro, do Português, cujas respostas parecem reforçar a importância para o seu futuro que os inquiridos atribuem à aprendizagem do Português.
Surgem como particularmente sugestivas as diferenças entre o uso actual do Português e o uso futuro que os inquiridos planeiam fazer do idioma. Enquanto no primeiro caso 55,4% usam o Português para «Falar com amigos/colegas», 48,1% para «Viajar», 34,4% «Em casa» e 30,8% «No meu trabalho», no segundo caso «Viajar» (77,6%) e «No meu trabalho» (60,6%) são as duas primeiras opções (Quadro 2).
Na opinião da equipa do ISCTE, «a natureza super-central do Português» - que alguns linguistas colocam ao «nível de uma segunda fileira, depois do Inglês e num nível semelhante ao Francês, Espanhol e outras» línguas - «pode estar em jogo nas motivações de muitos inquiridos, uma vez que eles encaram as línguas estrangeiras como um tipo valioso de capital humano», escreve José Paulo Esperança.
O investigador do ISCTE, economista de formação, refere, a propósito do valor de mercado de uma língua, que «vários estudos produziram uma mensuração concreta do benefício de aprender uma língua estrangeira, com base no diferencial de rendimento de pessoas com a capacidade de falar uma determinada língua».
Pontos fortes e fracos
O estudo do ISCTE refere que uma «explicação potencialmente poderosa para o interesse em segundas línguas específicas tem a ver com a abordagem das externalidades de rede». «As línguas são um bem público, cujo valor aumenta com o seu maior uso por outras pessoas. Portanto, as línguas gozam das propriedades de massa crítica que são típicas das redes de telecomunicações - a maioria dos consumidores prefere juntar-se a uma rede com um maior número de utilizadores, uma vez que dentro da rede de comunicações tende a ser mais barato e mais fácil», explica Esperança Pina, que conclui: «Dado o efeito de rede, quanto maior o número de falantes nativos e utilizadores secundários, maior é a recompensa para a aprendizagem de uma dada língua».
O impacto do «efeito de rede» nas características dos actuais fenómenos migratórios é sublinhado pelo investigador, que refere serem 50% dos imigrantes em Portugal oriundos dos Estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), isto apesar de o comércio externo português se fazer em 70% com a Europa. O segundo maior grupo de imigrantes é constituído por cidadãos de Língua Espanhola da América Latina, que têm «pouca dificuldade de aprender e usar fluentemente a língua do país de acolhimento». O investigador conclui que «o efeito de rede tem um impacto significativo na migração e integração dos migrantes. O migrante tem custos de adaptação inferiores no país de acolhimento cuja língua partilha. Os empregadores também enfrentam barreiras de comunicação inferiores», considerou.
Na sua comunicação, o investigador universitário enuncia dois ‘pontos fortes\' da Língua Portuguesa: número de falantes importante (244 milhões de pessoas - números de 2006 do Banco Mundial, relativo às populações dos países da CPLP, que, incluindo a diáspora portuguesa, representam 3,8% da população mundial) e forte presença nos media emergentes que usam a Internet.
«A partir da Internet World Statistics (2008), vemos que o Português está em 8º lugar e está destinado a aumentar uma vez que goza de uma das mais altas taxas de crescimento» (Quadro 3). Entre 2000 e 2008, o crescimento da Internet em Língua Portuguesa foi o 2º maior a nível mundial (668%), acima do chinês (crescimento de 622%) e apenas superado pelo Árabe (2062.2%).
A comunicação de José Paulo Esperança não faz qualquer referência às promissoras tendências demográficas da CPLP, cuja população crescerá 44% até 2050, concentrando quase 4% da população mundial (estimativa de 9,1 mil milhões de pessoas), segundo um relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) divulgado em Novembro último.
Um ‘ponto fraco\' detectado pelo professor universitário reside no facto de o peso no PIB mundial dos falantes de Português (3,2%) ser ligeiramente inferior à sua actual percentagem na população mundial (3,8%), o que dificulta a tese defendida por Esperança Pina, a saber, que «a riqueza cumulativa dos seus utilizadores é também importante para o reforço do efeito de rede».