A 13 de Dezembro de 2007 Lisboa foi palco da assinatura do Tratado reformador da União Europeia, culminando com sucesso a Presidência Portuguesa do Conselho de Ministros da União. A 15 de Dezembro, no Luxemburgo, o Museu de Arte Moderna Grand-Duc Jean (Mudam) inaugurou uma das maiores exposições de arte moderna portuguesa exibida fora de Portugal, associando-se desta forma à Presidência Portuguesa num ano em que o Luxemburgo e a Grande Região foram a «Capital Europeia da Cultura».
Número 121 · 16 de Janeiro de 2008 · Suplemento do JL n.º 973, ano XXVII
Este projecto do Mudam - o mais recente Museu do Grão-Ducado, em si mesmo uma obra de arte concebida por Ieoh Ming Pei, que foi igualmente o arquitecto, entre outros, da renovação e das pirâmides do Museu do Louvre, em Paris - assenta numa ideia-chave que é a de promover um encontro, um intercâmbio e uma abertura da arte contemporânea portuguesa num país cuja história recente está intimamente ligada à história da imigração e onde mais de 40% da população é estrangeira. Tendo em conta o contributo da comunidade portuguesa, que representa cerca de 15% da população do Luxemburgo, para o dinamismo e desenvolvimento do país, o Instituto Camões não podia ficar indiferente a um evento desta dimensão e projecção, associando-se à iniciativa desde o seu início.
«No decurso de um ano e meio, e por várias ocasiões, a equipa do Mudam deslocou-se a Portugal, dando a conhecer-se aos diversos parceiros sociais da arte contemporânea: artistas, comissários, críticos, espaços alternativos, instituições e galerias. Nesta relação, os diferentes actores da criação foram interpelados a fim de mostrar trabalhos, ditar os seus interesses, apresentar as suas razões e vontades. Deste modo processual e para-democrático, foi edificada uma exposição que mostrará um universo heterogéneo de criadores, abordagens e resultados criativos, inter-relacionando movimentações das últimas três décadas».
O testemunho de Natxo Checa (recolhido do original catálogo da autoria de Marco Godinho), é ilustrativo do percurso realizado pelos responsáveis do Mudam para conceber e organizar esta exposição a que simbolicamente chamaram Portugal Agora - à propos des lieux d\'origine, título inspirado pela obra de Pedro Cabrita Reis, «A propósito dos lugares de origem».
A exposição traduz, assim, um olhar estrangeiro sobre a produção artística contemporânea em Portugal através do qual são dados a conhecer os universos de diversas gerações de artistas, diferentes horizontes e distintas sensibilidades que colocam em evidência a riqueza criativa do nosso país.Neste sentido, Helena Almeida, Felipe Oliveira Baptista, Miguel Branco, Fernando Brízio, Pedro Cabrita Reis, Isabel Carvalho, Filipa César, Gil Heitor Cortesão, Pedro Costa, José Pedro Croft, Luísa Cunha, Alexandre Estrela, João Paulo Feliciano, Marco Godinho, Margarida Gouveia, João Maria Gusmão & Pedro Paiva, Ricardo Jacinto, Rui Moreira, Paulo Nozolino, João Onofre, Bruno Pacheco, Miguel Palma, João Penalva, João Queiroz, Jorge Queiroz, Paula Rego, Rigo 23, Miguel Ângelo Rocha, Mafalda Santos, Sancho Silva, Ângelo de Sousa, Pedro Sousa Vieira, João Tabarra, Rui Toscano, Francisco Tropa, João Pedro Vale e Joana Vasconcelos propõem-nos um percurso plástico que combina técnicas tão diversas como a pintura, a escultura, o grafismo, a fotografia, a performance, a moda, o design, o cinema e o vídeo.
Este conjunto de 38 artistas, para além de acolher diferentes gerações e sensibilidades, caracteriza-se por reunir diferentes experiências de vida que, de forma singular, são expressão de um modo de ser português num mundo global. Na verdade, para além dos que vivem e trabalham em Portugal, muitos deles vivem e/ou trabalham em locais tão diversos como Londres (Paula Rego, Bruno Pacheco, João Penalva), Cairo (Sancho Silva), Paris (Filipe O. Batista), Nova Iorque (Miguel Ângelo Rocha), Berlim (Filipa César, Jorge Queiroz), São Francisco (Rigo 23) ou Luxemburgo (Marco Godinho).Passear pelo Mudam seguindo o percurso cenográfico concebido por Sancho Silva, que procura criar uma dialéctica entre a percepção do visitante, a obra e o espaço arquitectónico do museu, constitui uma experiência singular, esteticamente estimulante, enfim, um «olhar diferente» e enriquecedor sobre «Portugal Agora»: moderno, dinâmico, criativo, inovador.
Do meu «passeio» retive - pese embora a subjectividade que lhe está associada - a pureza e a aparente simplicidade das esculturas de José Pedro Croft, os fortes contrastes da fotografia de Paulo Nozolino, o carácter simultaneamente lúdico e inquietante da instalação (o grande feijoeiro) de João Pedro Vale e o impressionante vermelho do «coração independente» de Joana Vasconcelos, que apela à riqueza das tradições portuguesas ao mesmo tempo que revela uma atitude crítica da sociedade de consumo.Esta nova geração de artistas portugueses, que se esforça por afirmar a sua obra no estrangeiro, e de que esta exposição é um exemplo eloquente, é o reflexo de uma nova realidade, de uma diferente imagem de Portugal a nível internacional, onde a cultura, a arte e a língua portuguesas constituem embaixadores por excelência.
Vários eventos acompanham a exposição, que estará patente ao público até 7 de Abril de 2008, entre os quais se destacam: conferência pelo Arquitecto Souto Moura (31 de Janeiro de 2008); workshops com Marco Godinho (19 e 20 de Janeiro de 2008) e Roxane Andrès (16 e 17 de Fevereiro de 2008); leituras por Verónica Afonso (15 e 16 de Março de 2008); Mudam Special - SUG(R)CANE, live electronic music mix (19 de Março de 2008).
O programa completo pode ser consultado em http://www.mudam.lu/
Maria de Fátima Caldeira
*Centro Cultural Português/Instituto Camões do Luxemburgo