Número 138 · 6 de Maio de 2009 · Suplemento do JL n.º 1007, ano XXIX
Exposição de fotografia de Patrícia Almeida no ‘Mois de l’image de Dieppe’
É-nos a um tempo familiar e estranho. Olhamos e reconhecemos, olhamos e perguntamos: ‘Quem é esta gente?’ A exposição fotográfica de Patrícia Almeida, Portobello, tem como tema o Algarve, não especificamente aquele Algarve, mas os algarves deste mundo – «poderia também ser a costa espanhola, grega ou brasileira…», segundo diz a fotógrafa (n. 1970), com uma licenciatura em História na Universidade Nova de Lisboa e o estudo de Imagem e Comunicação no Goldsmiths College, em Londres.
O projecto Portobello viu a luz do dia em Julho de 2008 com uma exposição de fotografias, recolhidas entre 2005 e 2007, na Casa das Artes de Tavira. A exposição esteve depois, de Setembro a Novembro de 2008 na Galeria Zé dos Bois em Lisboa, ao mesmo tempo que uma outra de André Cepeda, Ontem, ambas descritas pela crítica como de «observação do real» (Celso Martins, Expresso). No entanto, ao percorrermos as imagens que agora vão ser editadas em livro, em simultâneo com a exposição a convite da série Portobello na bienal internacional de fotografia “19ème Mois de l’image de Dieppe”, entre 11 de Maio e 6 de Junho, com o apoio do Instituto Camões, tudo nos diz que estamos perante um real que não é o que se oferece a quem nele participa in loco, mas o real peneirado pela distância que a fotografia cria – seja pela pose procurada, seja pelo enquadramento seleccionado – entre nós e o seu objecto, produzindo esse efeito de estranheza.
«Partindo de uma abordagem documental da fotografia, Portobello explora o fenómeno do turismo de Verão e o imaginário iconográfico a ele associado, cuja promoção institucional, baseada em técnicas de marketing, aborda a ideia de território em termos de ‘lugar-marca’ […] sem referências muitas precisas», diz a sinopse oficial da exposição, que acrescenta: «Portobello apresenta-se assim como um lugar à beira da ficção, simultaneamente real e inventado, uma espécie de \'parque temático\' sem temática, ancorado num imaginário colectivo relacionado com as férias, com o verão e construído a partir de estereótipos.»
Não havendo nenhum justificação para o título, Portobello – o nome de um dos mais famosos mercados de rua do mundo, situado em Londres, atracção turística por excelência – fica a explicação de David-Alexandre Guéniot, num dos dois textos que acompanham o livro, de um «nome genérico que evoca um vago exotismo latino, cidade ou região (italiana? espanhola? corsa? portuguesa? brasileira? mexicana?), hotel ou discoteca em que imaginamos o interior fora de moda e o néon sobre a fachada, ou um cocktail colorido (ilustrado por uma foto) numa lista de bebidas».
Só que quem vê, vê com os seus condicionalismos, e não admira assim que a crítica portuguesa diga que Patrícia Almeida «transporta-nos para um Algarve conhecido de todos» (Joana Lucas, Artecapital), o «Algarve dos ‘bifes’» (Celso Martins), das «imagens de terrenos baldios no limiar interior do Algarve» (José Marmeleira, L+Arte), «Algarve; a última colónia britânica, situada na ponta sul mais a ocidente da Europa» (Leonel de Jesus, TimeOut).
A proposta de Patrícia Almeida surge aparentemente como coerente com aquilo que tem sido o seu percurso, marcado pelo interesse pela «fotografia documental enquanto território de pesquisa e criação artística, realizando trabalhos que procuram questionar a relação do indivíduo com o espaço urbano (Esculturas [2000], Andar Modelo [2001], Locations [2000-2005])» ou ainda produzindo a série de fotografias do livro No Parking, editado em 2004 com o apoio do Centro Português de Fotografia, da Fundação Gulbenkian e da Fundação Oriente, diz a sua biografia.Um percurso reconhecido pelo convite para integrar em 2003 o colectivo de fotógrafos europeus P.O.C-Piece of Cake, compreendendo presentemente 21 «jovens artistas europeus cujo meio preferido é a fotografia» que «interagem ao criarem, produizirem e distribuírem os seus trabalhos».