A 2ª edição do festival Parfums de Lisbonne, que propõe «olhares cruzados entre Lisboa e Paris», vai ter lugar na capital francesa de 7 de Junho a 5 de Julho, numa organização da companhia de teatro Cá e Lá, dirigida por Graça dos Santos, dramaturga, professora de teatro e directora do Departamento de Português na Universidade de Paris X - Nanterre.
Número 126 · 4 de Junho de 2008 · Suplemento do JL n.º 983, ano XXVIII
O festival deste ano, que decorre em paralelo com a Festa da Música em Paris, centra-se no cinema português, das origens até hoje, tendo como núcleo a exibição de diversas películas, na série Visions du cinéma portugais contemporain. Mas as restantes manifestações culturais - teatro, poesia, música e fotografia - também remetem de alguma forma para o cinema.
O 1º Festival, em 2007, centrou-se no «texto», mas o facto de se tratar de um evento cujas principais actividades decorreram num espaço semi-aberto, o pátio do Café Lapeyronie/Torréfacteur, no bairro de Beaubourg, aproveitando os dias mais longos desta época do ano, criou dificuldades de percepção, no dizer de Graça dos Santos. Por isso, mantendo a localização do evento no café parisiense, os organizadores privilegiarem o «visual» em 2008.
A ideia do Festival é «fazer algo impressionista», em «pequenos formatos», dirigido aos transeuntes, sem obrigar as pessoas a ficar, e não aos públicos tradicionais dos eventos ligados à Cultura Portuguesa, explica Graça dos Santos.
Para além da exibição de três filmes portugueses (v. caixa), cada um dos quais estará em cartaz uma semana, a companhia «francesa de origem portuguesa» Cá e Lá, criada há 29 anos em França, e com actores entre os 19 e os 65 anos, apresentará sob a forma de teatro de rua trechos de revista à portuguesa de um período - os anos 40 - em que os actores, «passando de um lado para o outro, faziam o cruzamento entre o cinema e o teatro».
É o que acontecerá logo no primeiro dia do festival, a 7 de Junho, em que no Café Lapeyronie será apresentado o espectáculo Comédie à la portugaise, a partir da peça Portugal anos quarenta de Luiz Francisco Rebello. Depois, a 28 de Junho, no mesmo local, será a vez de Travelling au Théâtre - « Silence on tourne !», em que são apresentadas performances de actores evocando a dramaturgia e o cinema português.
Graça dos Santos afirma que, traduzidos para francês, estes textos, que remetem tanto para Gil Vicente como para o dramaturgo alemão Bertold Brecht, «têm um impacto maior» do que em Português, dando como exemplo os quadros sobre «a carestia [de vida], que têm a ver com a realidade das pessoas nas cidades». Por isso mesmo, os actores vão interpelar o público.
No dia inaugural, terá também lugar o desfile Fanfarres et Comédies -Démarrage en fanfarre, com a fanfarra dos Parfums, ao som de A Banda de Chico Buarque, aproveitando as duas entradas do pátio do café. Mas Graça dos Santos avisa que, nestes tempos em que «as pessoas se queixam muito, tanto em Portugal como em França», a marcha, em forma de procissão, será «quase fúnebre».
O cinema continuará a marcar o evento na sessão La poésie fait son cinéma: rimes et sons (Dos poetas de Orfeu à nova poesia portuguesa) que decorrerá sob a égide do ‘Marché de la Poésie\', no Café Lapeyronie, a 14 de Junho, e em que participam os leitores do IC de todos os departamentos de Português das universidades parisienses.
Já a Fête de la Musique do festival terá lugar a 21 de Junho no mesmo local, sob o título Accords et mélodies, en portugais d\'ici et là-bas, trazendo música popular e erudita, fado, canto, guitarradas. No seu último dia, a 5 de Julho, será a vez dos santos populares, com manjericos, quadras populares, baile, leitura de poesias de António Botto.
Durante todo o festival, as imagens dos cinemas de Lisboa, «os de hoje e os do passado», constituem o núcleo da exposição de fotografias que poderá ser vista no Café Lapeyronie/Torréfacteur. Lisbonne en couleurs - Lisbonne en noir et blanc / Lisboa a cores - Lisboa a preto e branco apresenta o trabalho de Christophe Pereira e Hugo Miguel Sousa.
Os filmes em exibição
A mostra cinematográfica, organizada pelos leitores de Português das universidades parisienses, e inteiramente financiada pelo Instituto Camões, decorre nas semanas de 7, 14 e 21 de Junho, com a exibição dos filmes no cinema MK2 Beaubourg, seguidos, no dia da estreia de um encontro/debate.
Alice (2005), de Marco Martins, que arrebatou em Cannes o prémio Regards Jeunes para Melhor Filme na Quinzena dos Realizadores de 2005, abre a série a 7 de Junho, seguido de debate com Régis Salado (Universidade de Paris 7)
A 14 de Junho será vez de O Delfim, de Fernando Lopes, inspirado no romance homónimo de José Cardoso Pires, ser exibido na presença do veterano realizador, seguido de debate, animado por José Manuel da Costa Esteves, responsável pela Cátedra Lindley Cintra (Paris X Nanterre).
O filme Juventude em Marcha, de Pedro Costa, o realizador português de quem se fala e que os cinéfilos norte-americanos já estudam, é o último da série Visions..., seguido de um debate animado por Jacques Lemière (Universidade de Lille 1).
Cada filme é exibido, durante uma semana pela manhã, e poderá ser, aliás, projectado nos meses de Verão, em função da programação da sala. Durante o ciclo será distribuída uma brochura com informações sobre o cinema português, os filmes e realizadores postos em destaque, segundo os organizadores do evento.