Instalação de Sofia Castelo é a única participação portuguesa no London Festival of Architecture.
Já pensou em entrar numa cabine telefónica, daquelas boas e velhas cabines telefónicas vermelhas que marcaram durante décadas a paisagem das cidades, e mudar de cenário entrando num outro «mundo»? Pois esse é projecto que a arquitecta paisagista Sofia Castelo levou ao London Festival of Architecture (LFA) 2008, a decorrer desde 1 de Junho. Só que as cabines são novas e estarão dotadas de capacidades multimédia.
Número 127 · 2 de Julho de 2008 · Suplemento do JL n.º 985, ano XXVIII
O projecto Kiosk 2008 foi o único de um arquitecto português a ser seleccionado para o Festival de Arquitectura de Londres, que se prolonga até 20 de Julho e que tem a pretensão de ser o maior evento relacionado com arquitectura alguma vez realizado. Está exposto desde 1 de Julho no Queen’s Walk, «uma localização muito privilegiada, directamente a Sul da Tate Modern», segundo Sofia Castelo.
As cabines telefónicas (como aliás os marcos de correio britânicos) são um dos ícones do mobiliário urbano do século XX, particularmente de Londres, de onde irradiaram para outras capitais. A primeira das Red Telephone Box inglesas (designada Kiosk 1) é de 1920, mas oito versões (K1 a K8) foram construídas ao longo do tempo. Aquela que estabeleceu o padrão definitivo dos modelos posteriores foi a K2, da autoria de Giles Gilbert Scott, um dos três arquitectos escolhidos para apresentarem os seus projectos a um concurso em 1924.
A cabine telefónica tornou-se de tal modo omnipresente no meio urbano que, como regista a apresentação do projecto da arquitecta portuguesa no sítio do festival londrino, «Clark Kent começou a vestir-se de Superhomem dentro de uma».
Contudo, «com a evolução das técnicas de comunicação, as cabines telefónicas perderam parte da sua função, prevendo-se que num futuro próximo a percam por completo», diz Sofia Castelo.
«O Kiosk 2008 inspira-se na Red Telephone Box na forma e na medida em que se constitui como um equipamento urbano onde se entra para estabelecer contacto, não com pessoas, mas com atmosferas específicas. O objectivo do Kiosk é estimular os sentidos, usando cor, som, olfacto e temperatura na evocação de paisagens identificáveis: mar, deserto, floresta e campos de alfazemas», acrescenta a arquitecta portuguesa.
«A instalação é uma experiência de três minutos de visão, audição, cheiro e tacto com uma selecção arbitrária de atmosfera», sintetiza a apresentação do LFA, considerando que Kiosk 2008 «é acerca da nossa percepção do mundo e das correlações que estabelecemos. A contribuição de um elemento urbano característico – como uma Red Telephone Box – para o carácter de uma cidade é paralela à importância de fenómenos naturais para a identificação de uma paisagem».
«O objecto é uma cabine multimédia, sendo que estamos a desenvolver o projecto com uma jovem empresa de novas tecnologias e robótica, a IdMind», explica Sofia Castelo que, autora do projecto, coordenou a equipa que o pôs de pé e que inclui um outro arquitecto paisagista (João Toscano), um cenógrafo (Paulo Oliveira), um designer industrial (Rafael Marques) para além dos especialistas de Multimédia e Robótica da Id Mind (Paulo Alvito e Carlos Marques).