Número 139 · 3 de Junho de 2009 · Suplemento do JL n.º 1009, ano XXIX
São Tomé e Príncipe
A São Tomé e Príncipe chamam-lhe as ilhas do Meio do Mundo, por se situarem no cruzamento do meridiano de Greenwich com a linha do Equador. Uma perspectiva europeia talvez, mas que dá conta da mestiçagem que povoa as ilhas, com cerca de 190 mil habitantes e cujo lema de vida é o leve-leve, expressão que significa “com calma”.
Os escravos trazidos do continente africano, acorrentados às suas línguas maternas, encontraram o Português do século XVI e, na tentativa do diálogo, nascem os crioulos. São normalmente referidos na literatura quatro crioulos do Golfo da Guiné: o Forro ou língua de S. Tomé, falado por 73,5% da população; o Lung’ie ou língua da ilha do Príncipe, falado por 1,6%; o Fá d’Ambô, da Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial), falado por cerca de 4 mil indivíduos; e o Angolar, falado numa zona específica da ilha de São Tomé, para o qual o censo de 1991 não apresenta dados, tal como para outros dialectos falados no país: o Português Tonga e o Caboverdiano, procedente da grande leva de contratados, que vinham do arquipélago da morabeza, para trabalhar nas roças.
A língua portuguesa, ao contrário do que se poderia pensar, é crescentemente a língua materna (ou em situação de bilinguismo/plurilinguismo) dos são-tomenses, 99,8 % dos quais declaram falar Português, parecendo ter uma clara percepção do poder de comunicação a nível mundial que o Português permite. É a única língua oficial do país, presente no ensino, nos meios de comunicação social, nos tribunais, nas repartições públicas, na assembleia dos deputados. Na verdade, os laços com Portugal e com o Brasil são fortes e perduram, quer pelos caminhos da emigração quer pelo facto de estes países (sobretudo Portugal) constituírem referência em muitas das áreas da cultura, da redacção das leis à formação de professores.Todos sabemos, nem que seja por intuição, que o contacto entre dialectos distintos é um dos factores de mudança linguística mais poderosos (ou não fôssemos todos latim em pó), o que significa que os poucos investigadores conceituados que se dedicam ao estudo das línguas das ilhas são unânimes em considerar que está em plena formação e se pode já apreciar a existência de uma variante são-tomense da língua portuguesa. A dificuldade neste momento está em viver uma realidade plenamente africana, inseridos na normativa europeia do idioma. Mas seguimos leve-leve, com os olhos postos no horizonte da competência comunicativa e linguística em Português, aqui nas Ilhas do Meio do Mundo.”
Filipa Fava
Leitora/Formadora do Instituto Camões no Instituto Superior Politécnico de São Tomé e Príncipe