Gilda Lopes Encarnação
Os anos que Gilda Lopes Encarnação esteve como leitora do Instituto Camões na Universidade de Salzburgo foram para ela uma experiência «muito gratificante», afirma.
Em primeiro lugar pelo interesse dos alunos pela Língua Portuguesa que, diz, «era enorme». «Na cidade de Salzburgo havia em 1997 um conjunto vasto de alunos que estudavam a par o Espanhol, o Italiano e também o Português».
Número 134 · 14 de Janeiro de 2009 · Suplemento do JL n.º 999, ano XXVIII
Esse número, afirma, tem vindo a reduzir-se devido, sobretudo, às dificuldades de «canalização profissional», um fenómeno idêntico ao que se passa com o Alemão em Portugal, considera a ex-leitora, hoje professora de Inglês e Alemão na Escola Secundária André Gouveia, em Évora, embora sem actividades lectivas.
Mas a sua experiência em Salzburgo, onde chegou depois de quatro anos num mestrado em Freiburg, na Alemanha, com uma bolsa do DAAD (serviço académico alemão) foi também gratificante porque teve «liberdade absoluta» de dinamizar os seminários que ela própria propôs, incluindo «um seminário sobre arte portuguesa, desde as origens até à arte contemporânea». «Não tinha qualquer entrave - devo elogiar enormemente a universidade, que de alguma forma reconheceu o meu trabalho por essa via», declara.
«Como sou uma apaixonada por literatura, fazia quase tudo na base dessa área, para além da língua, que o leitor tem sempre que assegurar. Dinamizava desde os principiantes até aos graus mais avançados. Sempre ofereci cursos de literatura portuguesa», afirma.
Foi no contexto de um seminário sobre José Saramago, que Gilda Lopes Encarnação levou o Nobel português a Salzburgo. Mas a então leitora organizou e ministrou também cursos sobre Lobo Antunes, Nuno Júdice (que levou à cidade austríaca quando dinamizou um «curso de poesia portuguesa moderna e contemporânea») e Teolinda Gersão (presente também quando de um curso sobre «pequena narrativa portuguesa»). Cursos esses que eram correspondidos pelo «elevadíssimo interesse» dos alunos. «Isso foi muito gratificante para o meu trabalho», afirma. «Mas foi sem dúvida a presença de Saramago a mais espectacular».
Embora tenha equacionado a possibilidade de voltar a ser leitora, os contratos anuais «para quem já tem uma vida mais ou menos organizada, trazem alguma instabilidade a partir de uma certa idade». Acresce que a reintegração em Portugal é sempre difícil, como aconteceu quando regressou, passada uma década.
Em Novembro passado, assumiu a direcção do Centro de Formação Contínua da Associação de Escolas Beatriz Serpa Branco, que envolve quase todo o distrito de Évora. «É um universo bastante vasto. São cerca de três mil associados a este centro, entre pessoal docente e não-docente. Dois mil docentes e cerca de 800 não-docentes».
Mas coerente com a sua paixão pela língua e pela literatura alemã, trabalha também como tradutora. «Neste momento estou a finalizar, a rever mesmo, a tradução de A Montanha Mágica [1924], de Thomas Mann, que vai sair na D. Quixote. E já tenho também em preparação Os Buddenbrooks [1901], também de Thomas Mann. Será a próxima». «Penso que ainda há um mercado em Portugal para a tradução de Língua Alemã», frisa.
Do seu currículo consta ainda um doutoramento em literatura alemã, com o tema O Diálogo na Poesia de Paul Celan, o poeta judeu alemão, nascido em Chernovits, na Bucovina (Império Austro-Húngaro, [Roménia actual]), mas que viveu a maior da sua vida em Paris, onde morreu. «É dos nomes maiores da lírica contemporânea em língua alemã, porque ele sempre escreveu em alemão. Um dos nomes maiores, senão mesmo o maior.»