No pretérito dia 19, com a co-organização da Comissão Europeia e da Presidência Portuguesa, através do Instituto Camões, reuniu-se em Lisboa, pela primeira vez, o Fórum Empresarial para o Multilinguismo, cujos trabalhos foram abertos pelo Comissário para o Multilinguismo, Leonard Orban, e por mim, na qualidade de Presidente do Instituto Camões.
Número 119 · 21 de Novembro de 2007 · Suplemento do JL n.º 969, ano XXVII
Esta reunião vem na sequência da realização em Bruxelas, no dia 21 de Setembro da conferência Empresas, Línguas e Competências Interculturais, co-presidida também por Leonard Orban e por mim.
Todos sabemos que a Educação é a pedra basilar de uma economia sólida. No entanto, só há pouco tempo se começou a declinar o conceito amplo de Educação em subcategorias específicas, com características e valências distintas: a educação inicial - de realçar a importância do projecto sobre Indicador Europeu de Competência Linguística-, a aprendizagem ao longo da vida, a flexibilidade e articulação do ensino - trazidas por Bolonha -, e o multilinguismo.
Estes vectores da Educação ganham uma especial relevância à medida que a livre circulação passa de aspiração a realidade, que a mobilidade se torna em tónica da vida académica e profissional e que o diálogo intercultural aparece como um imperativo em prol da paz mundial. Aos interesses económicos do Pós-Guerra, que estiveram na génese da Comunidade Económica Europeia, junta-se, hoje, a importância política de respeitar para ser respeitado: na Identidade, na Cultura, na Língua.
É reconhecido que, no seio de um mercado coeso europeu, a mobilidade dos trabalhadores constituirá importante fonte de ajustamento entre a oferta e a procura de trabalho. É reconhecido que um dos factores-chave para melhorar a competitividade no seio das empresas é a formação para o desenvolvimento, quer na fase de criação de uma empresa quer no seu quotidiano, bem como o trabalho transfronteiras dos empregados de empresas que fomentam a inter-cooperação. Seja na vertente da oferta/procura de trabalho seja na da competitividade e cooperação, também é reconhecido que o conhecimento de línguas é um dos instrumentos inquestionáveis na construção de metodologias das melhores práticas.
O reconhecimento da importância do multilinguismo em termos económicos encontra eco nas conclusões do estudo encomendado pela Comissão Europeia ao UK National Center for Languages sobre o impacto do défice de competências linguísticas nas empresas. Os resultados do referido estudo, divulgados no início deste ano, evidenciam perdas significativas de oportunidades de negócio para as PME, por dificuldades de ordem linguística, situação tanto mais gravosa quanto as PME representam 99% do tecido empresarial europeu, empregando 95 milhões de pessoas, o que corresponde a cerca de metade dos postos de trabalho no sector privado da UE. O investimento no multilinguismo torna-se ainda mais imperativo num contexto de crescente globalização dos negócios e de afirmação de novas economias emergentes em África, na América Latina e na Ásia, nomeadamente as da China e da Índia, mas também do Brasil e de Angola, onde muitos milhões de consumidores são falantes de variedades de línguas europeias. Neste contexto, a ligação escola-empresa, em particular universidade-empresa, é imperiosa. O ensino/aprendizagem das línguas para/por adultos, e não raro para fins específicos, tem de envolver agentes altamente especializados, capazes de, em conjunto com a empresa, desenvolverem estratégias de gestão linguística adequadas. Outra necessidade maior respeita ao desenvolvimento de tecnologias das línguas com alicerces científicos, consabidamente um factor de competitividade e de crescimento económico.
Pugnando por uma estratégia da UE que assuma, sistematicamente, a promoção do Multilinguismo, afirmamos a necessidade de uma política europeia de Multilinguismo que promova a diversidade cultural não só interna, mas também externa - Seres abertos ao diálogo e promotores do diálogo planetário.
A promoção da diversidade linguística europeia favorecê-la-á no plano cultural, mas também no plano de uma participação no mercado do conhecimento e, ainda, ou consequentemente, no da internacionalização económica, do progresso material. O investimento no multilinguismo trará às empresas europeias um incremento da sua competitividade e um dinamismo acrescido ao mercado interno da UE e no mercado global, não compatível com o actual «défice linguístico».
Uma das linhas estratégicas de actuação do IC na promoção da Língua Portuguesa, da Cultura Portuguesa e das Culturas em Língua Portuguesa é definida tendo em conta a dimensão europeia de Portugal.
Neste contexto, o IC, pugnando pelo plurilinguismo, pugna pelo reconhecimento, no seio da UE, da dimensão do Português como 3ª Língua Europeia mais falada mundialmente, numa Europa aberta à globalização real, com uma Estratégia de Lisboa a ser plenamente consumada, chamando a atenção para a Língua Portuguesa como Língua de Oito Vozes Culturais.
Com efeito, Portugal, país historicamente aberto ao Mundo, ao conhecimento e à interacção com outros povos, tem o privilégio de integrar a CPLP, sendo a sua Língua, a Língua Portuguesa, transcontinental, e, por tal, tem o privilégio de poder ocupar um lugar reconhecido no diálogo entre a Europa e o Oriente, a Europa, o Continente Africano e o Continente Americano.
Simonetta Luz Afonso