Jóias Reais - Joalharia Contemporânea Luso-Brasileira
Exposição no Rio de Janeiro nos 200 anos da chegada da Família Real ao Brasil
Aquela que será provavelmente a primeira exposição no Brasil de joalharia contemporânea enquanto expressão artística vai ter lugar a partir de amanhã e até 18 de Maio no Rio de Janeiro, juntando 48 artistas joalheiros brasileiros e portugueses numa "reinterpretação" de peças de joalharia real existentes em museus do Brasil e de Portugal, que também estarão em exibição.
Número 123 · 12 de Março de 2008 · Suplemento do JL n.º 977, ano XXVIII
«Nunca aconteceu um evento como este no Brasil. Será de grande impacto. E uma surpresa para todos», afirma a brasileira Lúcia Abdenur, co-curadora do projecto/exposição Jóias Reais - Joalharia Contemporânea Luso-Brasileira, juntamente com a portuguesa Cristina Filipe, professora na Ar.Co em Lisboa.A exposição, que entre 16 de Outubro e 30 de Novembro de 2008 também poderá ser visitada no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, insere-se no âmbito das comemorações oficiais dos 200 anos da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil em 1808.
No Rio de Janeiro, a exposição estará patente no conjunto arquitectónico que abriga o Museu Histórico Nacional, criado em 1922, constituído pelo antigo Arsenal Real e pela Casa do Trem (antiga Academia Militar).
Vinte e quatro artistas joalheiros portugueses e outros tantos brasileiros, agrupados aos pares, apresentarão aí as suas peças concebidas «a partir de uma jóia ou objecto, de inspiração, dos finais do século XVIII ou do início do século XIX, referente à época do reinado de D. João VI», o monarca que, ainda enquanto regente, transferiu há 200 anos a corte portuguesa para o Brasil, quando Portugal foi invadido pelas tropas napoleónicas.
«Pretende-se, deste modo, confrontar duas épocas e duas culturas, bem como construir uma ponte não só entre o passado e o presente mas também entre os dois grupos de artistas representantes das duas culturas em foco nas comemorações», afirma-se numa nota para a imprensa.A iniciativa, que conta com o apoio do Instituto Camões, visa estabelecer «um intercâmbio cultural e artístico, entre o Brasil e Portugal, e proporciona a troca e a fusão de várias referências históricas e criativas de ambos os países».
As jóias ou objectos de referência foram escolhidas a partir do acervo do Palácio Nacional da Ajuda e do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, do Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro e do Museu Imperial em Petrópolis.
O Brasil não tem tradição de joalharia enquanto expressão meramente estética. A formação em joalharia nas escolas do Rio de Janeiro tem sido aliás um dos eixos fundamentais da actividade de Lúcia Abdenur enquanto professora.«Geralmente aqui as peças [contemporâneas] são mais comerciais, ligadas à moda», diz a co-curadora brasileira. «Não era o que eu queria focar. Por isso, resolvi escolher pessoas que tivessem no currículo artes plásticas. E Jóias Reais será a primeira grande exposição de joalharia contemporânea (como expressão artística), aqui no Brasil», acrescenta.
«Na sua maioria, as jóias que servem de referência no projecto ‘Jóias Reais\' são objectos museológicos, de colecção, que já não se usam no nosso quotidiano. Mas são referências importantíssimas e que não deixam de continuar a ter uma carga muito forte em termos históricos», escreve no catálogo da exposição a co-curadora portuguesa, Cristina Filipe. «Acredito no interesse deste projecto, que as acorda e reinterpreta. Acaba por ser um revisitar das jóias, dando-lhes todo um outro sentido ou reafirmando o seu sentido original».A escolha dos joalheiros brasileiros e portugueses, embora «abrangente» e «diversificada», procurou aqueles que «tivessem vindo a desenvolver um trabalho com interesse dentro da joalharia contemporânea» e que «aceitassem fazer um trabalho enquadrado nestes moldes», segundo Cristina Filipe.
O projecto original ainda equacionou a possibilidade de as novas jóias serem produzidas conjuntamente pelos pares de artistas portugueses e brasileiros, mas as dificuldades logísticas de fazer viajar as peças entre os dois países acabaram por ditar o abandono da ideia.
A escolha das peças de referência foi feita com a consultoria da historiadora Luísa Penalva, do Museu Nacional de Arte Antiga, que também fez a contextualização histórica juntamente com o gemólogo Rui Galopim de Carvalho, responsável pela descrição das características das pedras bem como de outros materiais.
No âmbito do projecto/exposição Jóias Reais, está também programado, no Rio de Janeiro, uma exposição de gemas, coordenada por Rui Galopim de Carvalho, que decorrerá em simultâneo com a exposição no Museu Histórico Nacional.
«Provavelmente vão ser precisos outros ‘duzentos anos\' para entender parte dos trabalhos que vão ser apresentados na exposição. Mas isso não me assusta, pois acho que é natural. Todos os trabalhos que realmente têm expressão ou que acrescentam algo àquilo que já foi feito demoram tempo a instalarem-se na mente e na alma das pessoas», diz Cristina Filipe.