Número 140 · 1 de Julho
Não faltam razões para aprender português em Goa – a existência de falantes, o sistema jurídico, sobretudo os seus cartórios e conservatórias com imensa documentação em português, o significativo património histórico de influência portuguesa que ajuda a atrair o turismo, o mercado de trabalho das multinacionais indianas… não falando das relações com uma comunidade de 240 milhões de pessoas que têm como língua oficial o português.
Todavia, lamenta Delfim Correia da Silva, leitor do Instituto Camões e responsável pelo Centro de Língua Portuguesa em Goa, «os goeses estão aparentemente pouco atentos à realidade que é a promoção e o crescimento do português em termos mundiais, sobretudo na América Latina, em África, nalgumas regiões na Europa».
Atitude que contrasta com a dos chineses, ou dos latino-americanos hispano-falantes, que estão a investir na aprendizagem do português, porque encaram o idioma como uma fonte de oportunidades, sobretudo no espaço lusófono, em África e no Brasil.
O que não quer dizer que a realidade lusófona e portuguesa seja completamente desconhecida, sobretudo entre os jovens a quem os novos e os velhos media – em Goa recebe-se facilmente a RTP Internacional – permitem ter uma outra visão e até mesmo acompanhar, por exemplo, os resultados das equipas desportivas, a música e os novos grupos, refere Correia da Silva. Outros goeses sabem o que se passa, ou porque viajam ou porque têm familiares no estrangeiro e muitos deles em Portugal.
A outros níveis, como na literatura, há, contudo, um grande desconhecimento, até porque «Goa está muito atrás de alguns estados indianos, nomeadamente de Kerala, onde é mais fácil encontrar boas publicações». Não há muitas livrarias, que aliás não têm à venda quaisquer livros em português ou sequer portugueses traduzidos para inglês.
O docente português regista, no entanto, a existência de algumas pessoas, «em número reduzido, que parece que pararam no tempo». «Guardam uma imagem de Portugal até 61», data da integração de Goa na Índia.
Em contraste, Delfim Correia da Silva conta o caso de dois alunos da licenciatura de Cultura e Literatura Portuguesas da Faculdade de Línguas e Literaturas da Universidade de Goa vindos de Nova Deli, o primeiro com o objectivo de vir a exercer a docência de Português no norte da Índia e o segundo atento às oportunidades oferecidas pelas multinacionais de Bombaim e Bangalore, que necessitam de dotar os seus funcionários do conhecimento da língua portuguesa.
Outra área em que a aprendizagem de português em Goa se revela pertinente é a área do direito, considera o leitor do IC.
«O sistema jurídico é ainda marcadamente português. Muitas leis foram herdadas do tempo da presença portuguesa
No plano académico, diz Delfim Correia Silva, «há a vontade» de promover o português. «A Universidade de Goa não cria qualquer tipo de problemas, bem pelo contrário».