Exposição de Helena Almeida na Fundación Telefonica
É a grande exposição da edição de 2008 da Mostra Portuguesa em Espanha. A artista plástica Helena Almeida (n. 1934) volta a Madrid, capital de um país que, talvez mais cedo do que Portugal, reconheceu a sua obra «muito diversificada», assente na fotografia e na performance em vídeo, numa antológica que apresenta «peças» nunca mostradas, algumas das quais «inesperadas».
Número 131 · 22 de Outubro de 2008 · Suplemento do JL n.º 993, ano XXVII
Tela Rosa para Vestir é o título da exposição antológica de Helena Almeida que será inaugurada a 19 de Novembro nas instalações da Fundación Telefonica, no âmbito da Mostra Portuguesa.
O nome da exposição, que estará patente até 18 de Janeiro, é o título da primeira obra em suporte fotográfico de Helena Almeida, datada de 1969, explica Isabel Carlos, crítica de arte e curadora da exposição. «A exposição parte dessa obra e faz um percurso até hoje», adianta Isabel Carlos, que já em 2006 comissariou a grande exposição (Intus) que Helena Almeida levou à Bienal de Veneza de 2005 e que no início de 2006 foi apresentada no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, estabelecendo em definitivo a filha do escultor Leopoldo de Almeida como um dos grandes nomes da arte contemporânea portuguesa.
Embora antológica, a exposição apresentará «obras históricas que nunca foram mostradas». Ao todo, segundo Isabel Carlos, serão exibidas dez novas obras da artista, agrupadas em duas séries A Conversa e O Abraço. Uma destas novas séries - Isabel Carlos não quis dizer qual nem em que medida - é «bastante inesperada», na expressão da curadora. Lembra apenas que a obra de Helena Almeida gira à volta da «auto-representação» e que não pondo em causa essa realidade, a nova série significa um «alargamento».
«O corpo da artista - das mãos à boca, do rosto ao corpo inteiro - são sucessivamente trabalhados ao longo da sua obra, nunca como auto-retrato mas também nunca como encenação ou teatralização de outras personagens ou figuras, mas sempre como uma presença simultaneamente depurada, desassombrada e de forte impacto visual», é como Isabel Carlos descreve o trabalho de Helena Almeida num curto texto de apresentação da Mostra de Madrid.
Essa constante «auto-representação» não é contudo uma manifestação narcisista. Paulo Cunha e Silva escreveu, quando da Bienal de Veneza, que a obra de Helena Almeida é «sobre a experiência de si, a experiência do mundo e a experiência da arte. O corpo da artista confunde-se com o corpo da arte. (...) Ela está, toda, lá, na raiz da obra. Esta radicalização da ‘experiência-do-corpo-enquanto-experiência-do-mundo-enquanto-experiência-da-arte\' fá-la atravessar todos os domínios plásticos que podem representar um corpo. Não é pintora, não é fotógrafa, não é escultora, não é performer, não é videoasta. E no entanto é tudo isso, ora simultaneamente, ora alternadamente.»
É de alguma forma significativo que Helena Almeida dê a conhecer uma nova faceta da sua obra em Espanha. Numa listagem de 45 importantes instituições que possuem obras de Helena Almeida nas suas colecções, Espanha aparece à frente, com 18 instituições. Só depois surge Portugal com a presença em 15 colecções e, a grande distância, Estados Unidos (3).
O momento chave em Espanha parece ter sido a exposição Entrada Azul, em 1998, na Casa das Américas, integrada no ciclo Miradas Atlânticas. Organizada pelo Instituto de Arte Contemporânea (por ocasião da feira de arte Arco, dedicada nesse ano à arte portuguesa), a exposição constituiu «uma revelação para muitos críticos e curadores internacionais» e permitiu o relançamento de uma internacionalização precoce nos finais da década de 70, em Berna, Basileia, Paris e Bruxelas, que fora seguida de «um período de escassa visibilidade do seu trabalho», apesar de em 1982 ter sido a representante portuguesa na 40ª Bienal de Veneza. Virá depois, ainda em Espanha, uma retrospectiva no Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela, 2000). É também neste período que Helena Almeida recebe, em 2003, o Prémio de carreira da PhotoEspaña, um dos mais importantes festivais europeus de fotografia, actualmente comissariado pelo português Sérgio Mah.
«O período entre 2004-2005 é marcante no reconhecimento da sua obra», tendo realizado uma mostra de trabalhos no Drawing Center de Nova Iorque, participado na Bienal de Sidney e na importante exposição retrospectiva Pés no Chão, Cabeça no Céu, apresentada no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Agora, é o retorno a um país que muito contribuiu para a sua actual projecção internacional.