O escritor português Abel Neves (n. 1956) foi o vencedor com a peça Jardim Suspenso da edição de 2009 do Prémio luso-brasileiro de Dramaturgia António José da Silva, o único galardão no domínio da literatura e das artes, atribuído conjuntamente por instituições de Portugal e Brasil, no caso o Instituto Camões (IC) e a Fundação Nacional de Arte (FUNARTE).
O anúncio foi feito a 13 de Outubro, após uma reunião do júri luso-brasileiro realizada por videoconferência entre as sedes das duas instituições, em Lisboa e no Rio de Janeiro, e a nota saída indicava que «a decisão de atribuição do Prémio foi tomada, por maioria, com voto de qualidade, do presidente do júri português».
Do lado português, o júri foi constituído por Carlos Paulo, Gonçalo Amorim, João Paulo Cotrim e Rui Pina Coelho e, do lado brasileiro, por André Luiz Antunes Netto Carreira, Cristina Sobral Correa Jesus, Renato José Pecora e Tarciso de Souza Pereira.
Foi também atribuída uma Menção Honrosa, por unanimidade, à peça Clitemnestra ou a Tragédia Doméstica, da autoria de Micael de Oliveira (Portugal).
Abel Neves, dramaturgo, poeta e romancista com uma vasta obra publicada e levada à cena em Portugal e no estrangeiro, incluindo o Brasil, iniciou a sua actividade no teatro como actor da Comuna, onde permaneceu 12 anos fazendo «de tudo», como gosta de frisar.
Destaca-se ainda por manter uma actividade regular no domínio da pedagogia da escrita teatral, tendo sido responsável, em Julho passado, pelo atelier de escrita dramatúrgica levado a cabo no âmbito do III Encontro de Teatro dos Leitorados do Instituto Camões, que teve como palco a Fábrica da Pólvora de Barcarena, no concelho de Oeiras.
Sobre a peça vencedora (v. sinopse), Abel Neves afirmou que «esta é uma história para teatro semelhante a outras» que também tem, «algumas inéditas, outras felizmente já apresentadas ao público». «Não julgo que seja uma peça melhor ou pior do que outras que tenho, para ser sincero», frisou.
«Mais do qualquer outra coisa», o Prémio traz-lhe a satisfação de «contribuir para enriquecer um pouco, se o termo for feliz, a dramaturgia portuguesa». «A nossa dramaturgia, ou, se quiser, a dramaturgia e ficamos por aí que é melhor», acrescentou.
Abel Neves sucedeu ao brasileiro Fábio Luís Mendes, vencedor da 2ª edição, em 2008, com a peça The Cachorro Manco Show, apresentada em Lisboa em Abril passado, no Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII), outro dos parceiros do Prémio, juntamente com a Direcção-Geral das Artes de Portugal. O vencedor da 1ª edição do Prémio, em 2007, foi o dramaturgo português José Maria Vieira Mendes com a peça A Minha Mulher.
O objectivo do Prémio luso-brasileiro é «incentivar a escrita dramática em todos os seus géneros e o aparecimento de novos dramaturgos de língua portuguesa, reforçando as parcerias de desenvolvimento e cooperação cultural entre Portugal e o Brasil».
O Prémio de Dramaturgia António José da Silva tem o valor monetário de 15.000€ e a sua atribuição implica, ainda, a edição da obra premiada em Portugal e no Brasil, por iniciativa do Instituto Camões e da Funarte. O texto vencedor será também representado no Brasil e em Portugal, neste caso pelo TNDMII.
De acordo com o regulamento do concurso, os concorrentes foram seleccionados, numa primeira fase, em cada um dos países, por júris nacionais. Os textos dos oito concorrentes (quatro em cada país) seleccionados foram depois apreciados pelo júri conjunto, que escolheu o vencedor.
Abel Neves nasceu em Montalegre em 1956. Dramaturgo, poeta e romancista, com vasta obra em Portugal e muitas colaborações no estrangeiro, é autor das peças para teatro Amadis, Anákis, Touro, Terra, Medusa, Atlântico, Finisterrae e Arbor Mater, El Gringo, Lobo-Wolf e, mais recentemente, Inter-rail e Além as Estrelas são a nossa Casa. Autor, também, de textos para televisão, publicou o seu primeiro romance, Corações Piegas, (1996), seguido de Asas para que vos quero (1997). Em 1998 publica o livro de poesia Eis o Amor a Fome e a Morte e, em 2002, um volume de ensaios, Algures entre a resposta e a interrogação.
Encarte Camões no JL n.º 145
Suplemento da edição n.º 1021, de 18 de novembro a 1 de dezembro de 2009, do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias