O lançamento de uma nova tradução e uma temporada de cinquenta espetáculos dedicados à sua obra marcam esta semana a consagração de António Lobo Antunes em França, culminar de vários sucessos da cultura portuguesa em 2010.
A tradução de “O Meu Nome é Legião” foi ontem apresentada na Embaixada de Portugal em Paris e é hoje pretexto para uma sessão de discussão e leitura com a presença de Lobo Antunes, que também estará nos próximos dias em Nancy e Estrasburgo.
A publicação da 25ª tradução francesa de Lobo Antunes acompanhou a estreia de “Estado Civil”, um “poema dramático” encenado por Georges Lavaudant no teatro MC93 de Bobigny, a norte de Paris, primeiro de uma série de adaptações da obra do escritor até junho.
A penetração de intérpretes e autores portugueses “em certos circuitos do público esclarecido francês” é um dado adquirido nos últimos anos, “lentamente”, como salientam diferentes agentes do setor cultural ouvidos pela Agência Lusa em Paris.
“A conquista desse espaço é inegável na literatura, na música e também no cinema”, refere Fátima Ramos, que termina esta semana a sua missão de diretora do Instituto Camões em Paris.
A prová-lo, 2010 foi um ano de grande visibilidade para a cultura portuguesa. Gonçalo M. Tavares recebeu o Prémio “Hyatt Madeleine” do Melhor Romance Estrangeiro pela tradução francesa de “Aprender a Rezar na Era da Técnica”. “A Mãe”, de Rodrigo Leão, foi escolhido para a lista de álbuns do ano pela revista Les Inrockuptibles. O filme de “Mistérios de Lisboa”, a adaptação por Raoul Ruiz de Camilo Castelo Branco, foi um dos filmes mais aplaudidos e premiados do ano, dando uma marca literária portuguesa a um público que consagrou Manoel de Oliveira e Pedro Costa ao longo de anos.
Esta “movida” portuguesa continuará em 2012. Joana Vasconcelos foi convidada para apresentar as suas criações no Palácio de Versalhes, depois de nomes como Jeff Koons e Takashi Murakami. Ainda em 2011, os 70 anos do compositor Emmanuel Nunes serão assinalados em Paris com uma série de concertos.
Há quem assinale, no entanto, que esta presença cultural portuguesa funciona num público restrito e que luta contra dois fatores adversos, a “falta de estratégia cultural de Portugal no exterior” e “o peso da imagem da comunidade portuguesa” em França.
Sylvie Pereira, das edições Viviane Hamy, que lançou em França a partir de 2008 a obra de Gonçalo M. Tavares, é perentória quando afirma que “a cultura portuguesa não está na moda. Discordo da ideia de que há sucessos portugueses em França. Sucessos de crítica sim, mas não são sucessos de frequência”.
Fátima Ramos admite também que “a imagem de Portugal ainda está muito associada à comunidade portuguesa que veio para cá desde os anos 60. Há, no entanto, uma diferença entre a ideia de Portugal para a maioria dos franceses e o conhecimento que uma parte do público, entre a elite francesa, tem da cultura portuguesa”, sublinha a diretora do Instituto Camões em Paris.
“É difícil a um país como a França, que tem uma visão etnocêntrica do mundo, olhar para os outros sem condescendência”, afirma a escritora franco-portuguesa Brigitte Paulino-Neto, que até recentemente trabalhou na Ópera de Paris em dramaturgia.
A promoção da cultura portuguesa em França “é um percurso lento mas que está a ter resultados”, conclui Fátima Ramos. Falta conquistar uma “praça” importante de visibilidade, concordam vários dos agentes culturais ouvidos pela Lusa: a de um grande espaço museológico na capital, “que permita levar ao público alargado aquilo que já é mostrado no circuito das galerias”.