Leitorado de Kuala Lumpur
Maria Cristiana Casimiro está genuinamente entusiasmada com o seu leitorado na Universidade Malaya de Kuala Lumpur, onde chegou há 4 anos e meio, vinda de Timor-Leste. A paixão sente-se no que diz esta professora nascida em Nampula, no norte de Moçambique em 1962, e que tem no seu currículo dois cursos universitários.
Número 125 · 7 de Maio de 2008 · Suplemento do JL n.º 981, ano XXVIII
«Nunca poderia estar mais satisfeita, acho que não há muito mais que um professor possa desejar dos seus alunos, a sua vontade, o seu entusiasmo, como aceitam as aulas e participam e, sobretudo, o que verdadeiramente interessa, os resultados».
O seu contentamento é particularmente notório com «uma turma excepcional de 12 alunas, que se gradua para o ano, e que também vai concluir o nível 6 em Português - o máximo permitido», alcançado pela primeira vez em Kuala Lumpur. Quatro alunas, irão em Julho frequentar, também pela primeira vez, um curso de Verão (avançado) em Macau. «Elas vão com certeza adquirir muito mais informação e contarão aos colegas», sublinha Maria Cristiana Casimiro, neta do poeta Augusto Casimiro, fundador das revistas Renascença Portuguesa e Seara Nova, de que foi director nos anos 60.
De tal forma o Português suscitou o interesse destas alunas do bacharelato de Inglês, que é sobre autores portugueses, como Fernando Pessoa e Florbela Espanca, que algumas trabalham, quando, no âmbito do seu curso principal, têm de analisar aspectos linguísticos noutros idiomas, conta a leitora. E a ela recorrem muitos outros nas mais diferentes situações académicas.
A perspectiva que agora se abre é a de transformar o Português de língua de opção numa graduação Minor (bacharelato), revela. Presentemente, o Português enfileira com 18 outros idiomas que constituem as línguas de opção. Se se transformar num bacharelato, juntar-se-á aos cursos de Línguas e Linguísticas de Alemão, Árabe, Espanhol, Francês, Inglês, Italiano, Japonês, Mandarim e Tamil.
Procurando escorar esta pretensão, Maria Cristiana Casimiro e o seu colega de Língua Portuguesa Jamian Mohamad têm «organizado uma serie de actividades (que se têm traduzido no aumento dos alunos e do seu entusiasmo), como cinema, música, teatro em português». Por exemplo, organiza todos os semestres um concurso de teatro.
Para «sobreviver» às múltiplas actividades que desenvolve, não falando nas 28 horas de aulas semanais que chegou a leccionar quando não teve o concurso do seu colega malasiano, Maria Cristiana Casimiro confessa que é fundamental o facto de se sentir «verdadeiramente ‘no seu elemento\'» quando entra numa sala de aula onde vai leccionar Português, mesmo que antes se tenha sentido muito cansada.
A Malásia, está em processo de modernização acelerada, «mas os contrastes permanecem», admite a leitora, que fala na necessidade de compreensão, para o que procura manter-se a par da vida do país, lendo a imprensa de língua inglesa. Apesar de ser uma sociedade maioritariamente muçulmana (55%), a Malásia é «um dos países com mais mulheres na política». «A sociedade está a crescer e a amadurecer, inclusive politicamente (como se verificou nas eleições do mês passado)», diz Maria Cristiana Casimiro, que não sente dificuldade em viver num país «oficialmente muçulmano». «Tento vestir-me de acordo com as regras, mas isso também faria leccionando em Portugal».