O mundo do século XXI será plurilingue e a Língua Portuguesa um dos seus protagonistas, mas para que isso aconteça haverá que recorrer ao marketing e aos seus instrumentos e canais, nomeadamente na Europa, onde existe uma sub-representação do português face à sua importância global.
Número 123 · 12 de Março de 2008 · Suplemento do JL n.º 977, ano XXVIII
"As sociedades monolingues estão em vias de perder protagonismo no diálogo internacional; e os próprios ingleses, que dominam a língua franca, reconhecem a sua perda de oportunidades, em relações económicas, por essas razões limitativas, ponderando seriamente em estratégias que incentivem a aprendizagem de outras línguas, e procurando integrar-se plenamente nas políticas linguísticas da Europa de hoje".
A constatação foi feita pela Presidente do Instituto Camões (IC), Simonetta Luz Afonso, na sua intervenção sobre «A política cultural e a política de língua portuguesa» no seminário «O Serviço Diplomático Português: do 25 de Abril à actualidade e perspectivas de futuro», que decorreu em Fevereiro na Assembleia da República.
A Presidente do IC considerou que a emergência de Estados como o Brasil, a Rússia, a Índia e a China (os BRIC), "países em plena reformulação sócio-económica e política, potências naturais e humanas com consequências directas na vida planetária", irá ditar a inevitável expansão dos seus idiomas.
Deu como exemplo desta nova realidade "a adopção do Português como 1ª Língua Estrangeira de aprendizagem obrigatória desde o ensino primário, em dois importantes países do MERCOSUL, a Argentina e o Uruguai, ao mesmo tempo que um outro país sul-americano, a Venezuela, tem a intenção de seguir estes exemplos".
O plurilinguismo é também impulsionado, no dizer de Simonetta Luz Afonso, por um projecto como a União Europeia, assente sobre a livre circulação, "sobre a multiplicidade, sobre a integração equitativa entre as partes, coesamente conformando a diversidade, as diferenças culturais", mas em que ganha relevo "a importância política de respeitar para ser respeitado".
Ora, admite a Presidente do IC, dada a importância global da Língua Portuguesa, é "fácil deduzir a desproporção e sub-representação do Português, nomeadamente no contexto europeu, e a necessidade imperativa de inverter tal realidade, posicionando-o sem qualquer margem para dúvidas ou hesitação em lugar proporcional ao seu estatuto estratégico, como uma língua europeia de enorme dimensão externa".
Atesta a importância global do português o facto de ser "Língua de Trabalho de, pelo menos, 12 Organizações Internacionais e de outras regionais", de ser um "idioma transcontinental, através da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e também presente em muitos outros países da Europa, de África e da América por via das diásporas, não só portuguesas, mas de Língua Portuguesa" - 230 milhões de falantes, dos quais 5 milhões de emigrantes e luso-descendentes.
Simonetta Luz Afonso destacou ainda o facto de o Português ser, de entre as línguas europeias, juntamente com o Inglês e o Espanhol, uma das com mais falantes no mundo, "tanto em contextos de Língua Primeira como de Língua Segunda".
É para a salvaguarda destes valores que a Presidente do Instituto Camões advoga a criação e desenvolvimento de "instrumentos e canais idênticos aos do marketing tradicional". "O slogan, a assinatura, a expressão internacionalizada, a par das manifestações criativas e a produção técnico-industrial ou tradicional, as línguas associadas à cultura e à economia, merecem ser trabalhadas, de forma integrada, como Imagem de Marca".
Neste contexto, Simonetta Luz Afonso frisa que "a diplomacia cultural, instrumento de visibilidade e de política, é uma alavanca de imagem para a diplomacia económica, a ser cultivada na base da reciprocidade, isto é, o apoio económico às actividades culturais reverterá no sucesso das próprias políticas empresariais".
Na sua intervenção, a Presidente do IC abordou ainda aspectos ligados ao emprego dos conceitos de soft power e de valor na cultura e na língua no plano das relações internacionais.
O conceito de soft power, desenvolvido por Joseph Nye, assenta, segundo Simonetta Luz Afonso, num "modelo actancial, - nomeadamente através de valores, tradições, história, protagonismo artístico e modos de vida -, de configuração dos modos de atracção que um determinado país pode exercer sobre outros".
É ele que fornece "uma preciosa matriz para a planificação de produtos globalizáveis, neles podendo e devendo, por mérito absoluto, incluir-se a Cultura e a Língua", frisou, "A Persuasão, pela via da Imagem estética ou semiótica, seja de forma directa ou subliminar, toma assim o lugar da Imposição".
"Este dado, parecendo ser evidente, é na verdade o actual ovo de Colombo das estratégias de motivação cultural. Nenhum campo de exercício semiótico pode desempenhar melhor tal papel - a Cultura deverá ser assumida definitivamente como 3º pilar da política externa, em cuja defesa concorria, já em 1966, o Chanceler Willy Brandt."