Formação para os Professores de Português

Senegal/Casamansa

«Kassoumaye?» («Tudo bem?»), perguntam-nos em Diola, como forma de saudação. «Kassoumaye kep» («Tudo bem»), respondemos. Estamos em Ziguinchor, a capital da Baixa Casamansa, a quase 500 quilómetros de distância de Dacar.

Número 137   ·   8 de Abril de 2009   ·   Suplemento do JL n.º 1005, ano XXIX

Formação para Professores de Português
Foto de José Horta
A Casamansa, com uma superfície de 28.320 km2, é cortada pelo rio com o mesmo nome, ao longo de aproximadamente 300 km. Situada no sul do Senegal, entre a Gâmbia, a Norte, e a Guiné-Bissau, a Sul, a Casamansa conserva ainda, no seu património, vestígios de uma longa presença portuguesa na região, nomeadamente pelo facto de uma parte da população ter como língua materna um crioulo de base lexical portuguesa.

A Baixa Casamansa, ou Casamansa marítima, é dominada pela cidade de Ziguinchor, capital de uma região que conta com os departamentos de Bignona, Oussouye e Ziguinchor. Na Alta Casamansa, as duas principais cidades são Sédhiou e Kolda, esta última a mais de 200 km de Ziguinchor, a caminho do interior do país. Sédhiou, tendo sido até há pouco tempo um departamento de Kolda, é agora capital de uma região administrativamente separada de Kolda.

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Foto de José Horta
A Casamansa - isto é, as regiões de Ziguinchor, Sédhiou e Kolda -, tem constituído um terreno particularmente propício à aprendizagem da língua portuguesa no Senegal, entre outros motivos devido à vizinhança com a Guiné-Bissau, com cujas populações os casamansenses partilham uma certa identidade cultural.

O Português foi introduzido na Casamansa - e mais concretamente em Ziguinchor - em 1975, a nível do ensino secundário e, no início da década de 1980, no ensino médio.

Actualmente, há, nos ensinos público e privado das regiões de Ziguinchor, Sédhiou e Kolda, cerca de 110 professores e 15.000 alunos de Português, dos quais 70 docentes e 10.000 discentes se encontram na região de Ziguinchor. Um número de alunos e de professores superior ao observado no conjunto das oito restantes regiões do Senegal onde se aprende o Português.

Desde 1999

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Foto de José Horta
Procurando dar resposta às solicitações dos professores senegaleses a trabalharem no terreno e atendendo à necessidade de actualizar, complementar, reciclar ou mesmo iniciar a formação profissional desses professores, o Leitorado/Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões (CLP-IC) na Universidade Cheikh Anta Diop (UCAD) de Dacar tem organizado, desde 1999-2000, encontros com professores de Português Língua Estrangeira (PLE), na cidade de Ziguinchor.

Nos primeiros anos, estas sessões de formação não se restringiam aos docentes da região da Casamansa, abrangendo os das regiões mais próximas (Tambacounda e Kaolack).

O aumento muito significativo do número de docentes levou a que, no corrente ano lectivo, o CLP-IC, em coordenação com as autoridades locais, organizasse duas acções de formação exclusivamente para os professores da Casamansa: uma em Ziguinchor e outra em Kolda.

A 6ª Acção de Formação Contínua para Professores de PLE da Região de Ziguinchor, que decorreu de 11 a 13 de Março de 2009 no ‘Collège d\'Enseignement Moyen\' (CEM) Tété Diadhiou de Ziguinchor, contou com a participação de cerca de 60 professores de 37 escolas e liceus; a 1ª Acção de Formação Contínua para Professores de PLE das Regiões de Kolda e Sédhiou, que teve lugar a 16 e 17 de Março de 2009 na ONG "Aide et Action" de Kolda, registou a presença de quase 40 docentes de Kolda e Sédhiou, a leccionarem em 24 estabelecimentos de ensino das respectivas regiões.

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Foto de José Horta
Nestas acções de formação, dinamizadas pelo leitor do Instituto Camões e pela Dra. Johayna Bassène, responsável pelo Português na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Educação e da Formação (FASTEF) da UCAD de Dacar, foram abordados três aspectos: «Como implementar o novo programa de PLE do Senegal?» (Johayna Bassène), «A canção na aula de PLE» e «Como elaborar uma prova sumativa de PLE?» (José Horta).

No âmbito destes encontros, todos os professores de PLE das regiões de Kolda e Sédhiou e alguns dos docentes de Ziguinchor receberam, do responsável do CLP-IC, material didáctico, nomeadamente manuais oferecidos pelo Instituto Camões.

A participação dos formandos nestas acções, com uma duração, respectivamente, de 16 e de 18 horas, será atestada com diplomas do CLP-IC, que os representantes das regiões em causa receberão aquando das Olimpíadas do Português, a realizar no dia 25 de Abril de 2009.

Mini-Olimpíadas

Paralelamente à realização destas actividades, foram organizadas visitas ao CEM Malick Fall (onde, com o incentivo do Dr. Babou Diatta, nasceu, em 2006, o Clube de Português José Horta), ao CEM de Kandialang e ao CEM de Kandé, em Ziguinchor, e ainda ao CEM II de Kolda.

Nestes dois últimos estabelecimentos de ensino foram organizadas as Mini-Olimpíadas do Português, respectivamente nos dias 11 e 18 de Março. Coordenadas pelo responsável do CLP-IC com a colaboração de dois bolseiros Fernão Mendes Pinto da UCAD, as Mini-Olimpíadas do Português, com a duração de cerca de duas horas, integram sete actividades de carácter lúdico, apelando à capacidade de intercompreensão, e têm como público-alvo alunos dos 7º e 8º anos de escolaridade.

As Mini-Olimpíadas, abertas a jovens que frequentam níveis de ensino em que o Português não constitui ainda uma opção curricular, visam promover e divulgar a língua portuguesa junto de directores de estabelecimentos escolares, bem como sensibilizar potenciais alunos de Português para a sua aprendizagem.

Em cada uma das duas primeiras edições das Mini-Olimpíadas do Português participaram 30 alunos (15 equipas de dois alunos). No caso do CEM II de Kolda, o concurso contou com a participação de alunos não só desta escola, mas também do CEM I de Kolda e dos CEM de Sikilo Ocidental e de Sikilo Norte. No final, todos os 60 concorrentes foram premiados com material escolar.

O elevado número de alunos, de professores e de estabelecimentos escolares com ensino do Português na Casamansa e o empenho das autoridades locais, nomeadamente dos Conselheiros Pedagógicos Itinerantes (Dr. Amadou Câmara, de Ziguinchor, e Dr. Malang Diédhiou, de Kolda) e dos coordenadores designados para Bignona, Oussouye, Kolda e Sédhiou, bem como o dinamismo que a língua portuguesa revela nesta zona do Senegal, justificam plenamente o investimento que o Instituto Camões tem feito e venha a fazer no terreno.

 

José Manuel Horta

Leitor, responsável pelo Centro de Língua Portuguesa/Instituto Camões do Departamento de Línguas e Civilizações Românicas da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade Cheikh Anta Diop, em Dacar