Concertos de António Rosado em Madrid e Girona
Debussy será o mote dos dois concertos que o pianista António Rosado dará no âmbito da VI Mostra Portuguesa de Espanha. Mas serão obras de compositores portugueses influenciados pela cultura francesa que constituirão o principal dos dois concertos, a ter lugar em Madrid, no Centro Cultural Conde Duque, a 6 de Novembro, e em Girona no dia seguinte.
Número 131 · 22 de Outubro de 2008 · Suplemento do JL n.º 993, ano XXVIII
Nessa linha, António Rosado, segundo declarou, tocará peças de Luís de Freitas Branco (1890-1955) e de Armando José Fernandes (1906-1983), a que juntará obras de Vianna da Mota (1868-1948) e de Fernando Lopes Graça (1906-1994).
«Tentei enquadrar várias obras de compositores portugueses noutras que tivessem de alguma forma a ver, nomeadamente, com Débussy, com que começo o meu recital», explica António Rosado, que aponta Freitas Branco e Armando José Fernandes como exemplos de compositores que «sofreram nalguma altura da sua vida a influência» da cultura francesa, comum nas suas épocas. É que, como afirmou numa entrevista este ano reproduzida no blogue Contemporá/âneas, «um programa deve ser encarado como um todo que deve fazer sentido, que deve ter uma razão de ser, coerência e um significado próprio». Uma preocupação que interiorizou quando estudou em Paris com Aldo Ciccolini.
António Rosado, que em 2008 assinala os seus 30 anos de carreira, foi o primeiro pianista português - reza a sua biografia - a «realizar as integrais dos Prelúdios e também dos Estudos de Claude Debussy».
E tendo já passado há muito o desejo de «tocar tudo», de quando se começa a tocar, sublinhou na entrevista ao blogue que «são muito importante as escolhas que vamos fazendo, porque se torna logo evidente que, por muito que trabalhemos, nunca chegaremos ao fim».
De todos aqueles compositores portugueses, António Rosado gravou obras nos últimos anos. Em 2004 a ‘Numérica\' editou o seu registo da integral das seis Sonatas para Piano de Fernando Lopes Graça, que nunca tinham sido gravadas em conjunto, em 2006 as oito Suites In Memoriam Bela Bartók Op 126 do mesmo compositor e, em 2007, os Prelúdios de Armando José Fernandes e Luís de Freitas Branco.
Da sua relação com Espanha, diz Rosado que é sobretudo a relação com a música espanhola, que descreve como «muito forte». O pianista português estudou em França e Itália, países que já laurearam através da Academia Internacional Maurice Ravel e da Academia Internacional Perosi. Foi também já premidado pelos concursos Vianna da Motta e Alfredo Cassella (Nápoles).
O pianista português, que faz um «balanço muito positivo» de 2008, assinalou os 30 anos de carreira com um significativo ciclo de cinco recitais, quer a solo quer acompanhado por alguns convidados, entre Março e Julho passados, nas salas do Museu Colecção Berardo-CCB, «um local onde não era hábito acontecer música».
2008 vai ainda trazer-lhe, em Matosinhos - uma terra onde repetidamente tem desenvolvido a sua actividade -, um ciclo quatro recitais «muito exigente», «só com grandes sonatas do repertório pianístico».
Aquele de quem a revista francesa Diapason escreveu que é um «intérprete que domina o que faz. Tem tanto de emoção e de poesia, como de cor e de bom gosto» - as frases mais citadas a seu respeito - é conhecido por ser um executor versátil, o que se traduz num repertório pianístico diversificado, em que tão depressa surgem Georges Gershwin e Aaron Copland, como Albéniz, Liszt, Schumann, Prokofiev, Brahms e Mozart.
A sua estreia nos registos sonoros fez-se na década de 80 em Paris com George Enescu (1881-1955), um compositor romeno que começou a sua carreira como «criança prodígio», uma classificação que não seria completamente inadequada para António Rosado, que actuou em palco, pela primeira vez, aos quatro anos de idade.
Iniciando-se no acordeão com o pai, passou depois ao piano. Terminou com vinte valores o Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional de Música, em Lisboa, onde foi aluno de Gilberta Paiva, que o estimulou a acabar rapidamente a graduação académica de forma a poder beneficiar ainda novo de uma formação no exterior.
Aos dezasseis anos, reza a sua biografia oficial, partiu para Paris, e aí foi discípulo de Aldo Ciccolini no Conservatório Superior de Música e nos cursos de aperfeiçoamento em Siena e Biella (Itália). Depois foi a «internacionalização».
Sobre António Rosado escreveu Teresa Cascudo: são «três décadas (...) marcadas pela seriedade e pela paixão pelo piano e repletas de momentos mágicos e de interpretações magistrais».