É muito diferente a situação na Argentina e no Uruguai no que toca à formação dos professores que ensinam a Língua Portuguesa (LP) enquanto idioma estrangeiro, nos respectivos sistemas escolares.
Número 129 · 27 de Agosto de 2008 · Suplemento do JL n.º 989, ano XXVIII
Enquanto na Argentina uma rede ampla de instituições de Ensino Superior (ver artigo «Efeito Brasil») forma professores (e tradutores) de LP, no Uruguai o ensino do Português está entregue «a brasileiros - a grande maioria sem estudos específicos em didáctica - ou uruguaios que se graduaram no nível avançado do CELPE-BRAS [certificado de proficiência em Língua Portuguesa para estrangeiros outorgado pelo Ministério da Educação do Brasil]», diz Raquel Carinhas, leitora na Universidad de la República, em Montevideu.
Pelas suas características, a formação de professores naqueles dois países tem sido uma actividade em que o Instituto Camões, através dos seus leitorados, tem apostado, para além do ensino da Língua e da Cultura Portuguesa, esta última vertente obrigatória nos cursos de profesorado e traductorado do Instituto Superior en Lenguas Vivas ‘Juan Ramon Fernandez\', «mesmo que os alunos optem por estudar a norma brasileira», que aliás é aí dominante, diz Sónia Mendes, leitora nesse instituto e responsável pelo Centro de Língua Portuguesa (CLP) de Buenos Aires.
Uma vez que no Uruguai a grande maioria dos professores não tem qualquer licenciatura específica para ensinar Português, «uma forma de se especializarem no ensino de PLE [Português Língua Estrangeira] é frequentarem os Cursos de Actualização de Professores de PLE organizados pelo CELEX [Centro de Lenguas Extranjeras da Universidad de la República] e pelo Leitorado IC, com periodicidade de 5 a 6 cursos por ano sobre diversas temáticas: didáctica, literatura, cultura, gramática», adianta Raquel Carinhas.
Para suprir as carências na difusão directa da LP no Uruguai, tanto a Embaixada de Portugal como o leitorado do IC têm procedido ao «envio de material bibliográfico para escolas de fronteira onde há ensino dual português-espanhol» e para os centros de línguas estrangeiras.
Mas o foco está na dinamização de cursos intensivos de actualização de professores de PLE, realizados na Universidad de la República. «A formação de professores está praticamente a cargo do Leitorado do IC nesta Universidade», diz Raquel Carinhas, que este ano tem contado com o apoio da leitora do IC em Buenos Aires, Sónia Mendes.
«Os cursos têm tido em média uma assistência de 80 professores, uma ponta do iceberg que constitui a ‘rede de docentes\' de PLE. Por que não assistem mais? Porque não há apoio institucional e muitos vivem a mais de 600 quilómetros da capital», explica a leitora de Montevideu, que lamenta o facto de os cursos não serem reconhecidos pelo Ministério da Educação uruguaio.
Na Argentina, a participação do IC na organização de seminários e cursos de formação de professores, de produção de materiais didácticos para a PLE, de inclusão das TIC (tecnologias de informação) no ensino-aprendizagem de PLE, quer por intermédio da sua leitora, quer com professores portugueses convidados, vai de par com outras actividades, como sejam o ensino de literaturas de expressão portuguesa e culturas lusófonas, a presença em congressos nacionais e internacionais e a organização de seminários nas áreas da literatura, refere Sónia Mendes.
Em 2007 e 2008, o leitorado de Buenos Aires promoveu a realização de vários seminários no CLP/IC destinados a alunos e professores do Instituto ‘Juan Ramón Fernández\' e de outras universidades argentinas.
Neste ano lectivo, a leitora, através do CLP/IC, passou, também, a ser coordenadora no Programa de Estágios de Professores de Português naquele instituto e, actualmente, elabora, com o apoio do IC-Sede, «um projecto pedagógico, a dois/três anos, que visa a formação de professores em áreas específicas como a Linguística Portuguesa, a Didáctica do PLE, Literaturas de Expressão Portuguesa, Tradução, etc.», indica Sónia Mendes. «É nosso objectivo realizar dois módulos temáticos por ano, a serem dinamizados por professores universitários portugueses, destinados a (futuros) professores/tradutores das diversas instituições de ensino superior argentinas», acrescenta.
«Nesta área de trabalho, o nosso objectivo principal tem sido verificar quais as carências que apresenta a Argentina no âmbito da formação de professores e supervisão pedagógica para, através da dinamização de cursos e seminários nessas áreas, suprirmos as mesmas», conclui.