A obra do realizador português Pedro Costa (n. 1959), apresentado como «o maior diretor do novo cinema português», está a ser mostrada ao público brasileiro em São Paulo (1 a 15 de setembro), Rio de Janeiro (11 a 23 de setembro) e BrasÃlia (14 a 26 de setembro), com o apoio do Instituto Camões (IC).
A retrospetiva integral, com os 10 filmes (sete longas metragens e três curtas-metragens, em mais de 20 anos de produção) do cineasta português, está a ter lugar no Centro Cultural do Banco do Brasil, uma instituição de referência ligada às artes no Brasil, com pólos nas três cidades.
Embora os organizadores brasileiros digam que o cineasta português tem «uma obra pequena e um tanto clandestina», retrospetivas da obra de Pedro Costa tiveram recentemente lugar na Tate Gallery (em 2009), em Londres, e na Cinemateca Francesa, em janeiro passado, e o autor é estudado nas universidades norte-americanas.
Com o apoio do IC, as sete longas-metragens do realizador foram também exibidas, legendadas em inglês, no Festival Internacional de Cinema de Jeonju (Coreia do Sul), em abril-maio passado, e o seu último filme Ne change Rien, foi apresentado este mês no Eurospace, em Shibuya, Tóquio, com a presença do realizador, no quadro das celebrações do 150º aniversário do Tratado luso-nipónico.
A restrospectiva sobre Pedro Costa - que se deslocará a São Paulo para participar num debate sobre a sua obra e apresentar uma instalação na 29ª Bienal de São Paulo, cuja lista de artistas integra - compreende ainda a rubrica ‘Carta Branca’, com quatro filmes escolhidos pelo próprio cineasta e que influenciaram sua obra - Gente da SicÃlia, de Straub e Huillet, Beauty #2, de Andy Warhol, Número Zero, de Jean Eustache, e Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Cordeiro, dois cineastas portugueses com quem partilha uma espécie de ‘antropologia visual’, no dizer dos artigos da Wikipédia.
A curadoria da mostra está a cargo de Daniel Ribeiro Duarte, realizador de cinema, que desenvolve um projeto de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa com o tema Comunidade e contemporaneidade no cinema de Pedro Costa.
Pedro Costa, segundo os organizadores da mostra, construiu « uma das mais sólidas e enigmáticas carreiras do cinema contemporâneo. Sua obra resiste a qualquer tipo de classificação. Com uma dedicação inédita, Costa aborda temas como a migração, a pobreza e a globalização filmando a vida dos imigrantes pobres que vivem nos chamados ‘bairros de lata’ de Lisboa, muitos deles imigrados de Cabo Verde. Mas seu trabalho transcende pela beleza descomunal de seus planos, a precisão da montagem e a intimidade sem precedente dos retratos apresentados».
Historiando a evolução da obra de Pedro Costa, os organizadores da mostra de São Paulo dizem que depois de Ossos (1997), «seu ultimo filme com grande estrutura de produção, o cineasta se dececionou com toda a maquinaria do cinema» e, a partir de No quarto da Vanda (2000), «recusa o sistema tradicional de produção», passando a filmar com amigos e atores não profissionais. «Como resultado, seus filmes tensionam e destroem, a cada plano, a divisão entres os territórios da ficção e do documentário», sublinham.
Também «o uso que o cineasta faz de câmaras digitais portáteis para um discurso tão elaborado faz de seus filmes uma espécie de manifesto do cinema moderno e contemporâneo, prova de que o cinema ainda pode ser livre e comprometido, polÃtico e poético, ético e estético».