O Camões – Instituto da Cooperação e da LÃngua, I.P. e a Embaixada de Portugal em Roma manifestam o seu profundo pesar pelo falecimento da Professora Giulia Lanciani, uma brilhante académica, investigadora, tradutora e docente de LÃngua Portuguesa em Itália e, para várias gerações de lusitanistas e estudantes, uma referência Ãmpar na ligação entre os nossos dois paÃses.
A Professora Giulia Lanciani deixa um contributo cientÃfico e académico de excelência e, sobretudo, um legado de amor à lÃngua, à s literaturas e à s culturas de lÃngua portuguesa. O Estado português reconheceu esse percurso único em outubro de 2010, ao conferir-lhe o tÃtulo de Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique. Recebeu igualmente, ao longo da sua carreira, vários prémios e doutoramentos Honoris Causa pela Universidade Nova (2003) e a Universidade Clássica de Lisboa (2011).
Nota Biográfica
Professora universitária italiana (Roma, 16.5.1935). Licenciada pela Faculdade de Letras da Universidade de Roma, defendeu como tese de licenciatura a edição crÃtica e comentada do Auto das Regateiras, de António Ribeiro Chiado, logo publicada pelas Edizioni Ateneo de Roma. Assistente de LÃngua e Literatura Portuguesa da referida Faculdade, professora da mesma disciplina na Universidade de Veneza (Ca’Foscari), era professora catedrática de Literatura Portuguesa da universidade romana «La Sapienza» e também, desde 1980, de Literatura Brasileira.
A sua atividade de investigadora e os seus interesses cientÃficos têm-se aplicado a vários campos dos estudos sobre literatura e lÃngua portuguesas, desde a crÃtica textual e edição de texto à definição de modelos narrativos ou à metodologia da tradução. Diversos são também os perÃodos literários abrangidos pela sua investigação: da poesia medieval ao teatro do seco XVI, da literatura de naufrágios dos sécs. XVI e XVII à poesia e prosa do séc. XX, portuguesa e brasileira. Na variedade dos temas avultam, todavia, alguns núcleos fundamentais: 1.º) a obra do Chiado – da qual Giulia Lanciani nos ofereceu, além das edições do Auto das Regateiras e do tratado das Parvo ices (este, em ed. sinóptica das duas redações conservadas manuscritas), alguns estudos acerca da popularidade e das personagens do teatro chiadiano; 2.°) a lÃrica galego-portuguesa ¬ objeto também das edições crÃticas de dois trovadores, Fernan Velho e Ayras Veaz, e de artigos de reflexão e sÃntese sobre os géneros e os poetas; 3.°) os relatos de naufrágios – talvez o domÃnio que mais contribuiu para tornar G.L. uma referência indispensável no panorama da crÃtica literária portuguesa, desde que, em 1979, publicou, na «Biblioteca Breve», uma revisão crÃtica da consistência do corpus e propôs uma definição da matriz literária do género e da organização narrativa dos relatos (Os Relatos de Naufrágios na Literatura Portuguesa dos Séculos XVI e XVII).
O respeito pela genuinidade do texto foi uma das caracterÃsticas marcantes do labor cientÃfico de G. L. Ao rigor filológico que distingue as suas edições de textos antigos associou a capacidade de refletir sobre problemas teóricos e de aplicar a crÃtica textual também a textos literários contemporâneos (designadamente, de Pessoa ou Manuel Bandeira), contando-se entre os colaboradores do projeto Archives de la Littérature Latino-Américaine et des Caraibes du XXe Siecle. E, a par do domÃnio dos instrumentos crÃticos, revelou uma fina sensibilidade, não só na interpretação e avaliação estética dos textos que analisa mas também nas requintadas traduções de autores portugueses (Fernando Namora, Sophia de Mello Breyner, Rui Belo, Nuno Júdice, José Saramago e, sobretudo, Carlos de Oliveira) ou brasileiros (Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa) e nas subtis construções hermenêuticas a respeito da obra de alguns destes autores.
Diretora do vol. Studi camoniani 80 e codirectora dos Studi latinoamericani 81 (Romanica Vulgaria – Quaderni, 2 e 4/5), colaborou com Giuseppe Tavani na organização do Dicionário de Literatura Medieval Galega e Portuguesa (Lisboa, 1993) e de uma Grammatica Portoghese (Milão, 1993).
O Camões - Instituto da Cooperação e da LÃngua, I.P. é um instituto público tutelado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros que tem por missão propor e executar a polÃtica de cooperação portuguesa e a polÃtica de ensino e divulgação da lÃngua e cultura portuguesas no estrangeiro.
Lisboa, 15 de novembro de 2018
Gabinete de Documentação e Comunicação
T: 213 109 100