O fabrico de chocalhos em Portugal, ofício e manifestação cultural que tem no Alentejo a sua maior expressão a nível nacional, foi hoje classificado pela UNESCO como Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.
A decisão foi tomada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), na 10.ª reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a decorrer em Windhoek, capital da Namíbia, até sexta-feira.
O comité aprovou a candidatura portuguesa do fabrico de chocalhos (ou arte chocalheira) e a sua inscrição na Lista do Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.
Presente na reunião, a comitiva portuguesa celebrou a distinção ao fazer ecoar pela sala vários chocalhos.
A embaixadora portuguesa na Namíbia, Helena Paiva, considerou ser “um dia feliz para Portugal”, que, com esta classificação, inscreve o seu primeiro bem cultural na lista do Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.
O dossiê, liderado pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo, em colaboração com a Câmara de Viana do Alentejo e a Junta de Freguesia de Alcáçovas, no distrito de Évora, já em novembro tinha obtido parecer positivo da comissão internacional de especialistas da UNESCO, que considerou a candidatura como “exemplar”.
Coordenado pelo antropólogo Paulo Lima, o processo tem dimensão nacional, mas baseia-se num trabalho técnico e científico à volta da arte chocalheira da freguesia de Alcáçovas, no concelho de Viana do Alentejo, “capital” do fabrico de chocalhos no país.
O fabrico de chocalhos, refere o dossiê da candidatura, é uma atividade metalúrgica associada essencialmente à pastorícia e consiste “na produção de um idiofone em ferro forjado que é suspenso ao pescoço dos animais numa coleira”.
Em Portugal, há sete zonas onde ainda “moram” chocalheiros, muitos deles com idade avançada. O roteiro passa por três concelhos do Alentejo, Estremoz, Reguengos de Monsaraz e Viana do Alentejo, assim como por Bragança, Tomar, Cartaxo e Angra do Heroísmo.
Os chocalhos são fabricados, de forma artesanal, a partir de uma chapa de ferro, que é moldada a frio, na bigorna, com recurso a martelo.
A industrialização do fabrico e a quebra na procura de chocalhos devido às alterações verificadas no mundo da pastorícia, com o fim da transumância do gado ou a introdução de cercas, são outras das causas apontadas para a quase extinção desta manifestação cultural.
Lusa