As quatro tapeçarias sobre as conquistas norte-africanas do rei português Afonso V, que se encontram num périplo expositivo pelos Estados Unidos, serão exibidas a partir de 5 de fevereiro, no Meadows Museum, de Dallas, onde permanecerão até 13 de maio, depois de terem estado em exposição entre setembro e janeiro na National Gallery of Art (NGA) de Washington.
A exposição, intitulada A Invenção da Glória: Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana, seguirá depois para o San Diego Museum of Art, entre 10 de junho e 9 de setembro, e para o Indianapolis Museum of Art, de 5 de outubro a 6 de janeiro de 2013.
O périplo pelos Estados Unidos foi organizado pela National Gallery of Art e pela Fundação Carlos de Amberes (Espanha), numa ação que conta com o apoio do Instituto Camões, entre outras entidades.
As tapeçarias que relatam graficamente a conquista de Arzila – de que apresenta o desembarque, o cerco e o assalto – e a subsequente ocupação de Tânger, em 1471, por um corpo expedicionário, comandado pelo monarca português e pelo seu filho (o futuro rei D. João II), foram restauradas em 2008, depois um período de algum esquecimento, por iniciativa da Fundação Carlos de Amberes.
Os monumentais panos (cerca de 10 m de largura, por 4 de altura), fabricados em lã e seda, no último quartel do século XV, pelas oficinas de Passchier Grenier, em Tournai, na Flandres, são considerados um dos exemplos «mais precoces e raros de tapeçarias criadas para celebrar o que eram então eventos contemporâneos, em vez de assuntos alegóricos ou religioso», escreveu a NGA na sua apresentação da exposição.
Para os especialistas, nomeadamente para António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, onde foram expostas em 2010, o que caracteriza as tapeçarias de Pastrana é serem «panos para a História», ao estabelecerem uma «relação operativa» deliberada com a «contemporaneidade», projetando «a imagem recriada (e por isso inventada, mental) de um monarca que nelas faria prova de uma aguda consciência da bondade retórica do monumento e da sua relevância na construção póstuma de uma visão perspetivada da sua ação como Rei e Chefe».
Outro aspeto distintivo das tapeçarias é o elevado número de personagens retratados com enorme pormenor e a capacidade de concentrar, numa composição, um conjunto de acontecimentos situados numa linha temporal, numa recriação em que se parecem misturar pormenores reais, ‘liberdades artísticas’ e preocupações narrativas.
A autoria dos cartões das tapeçarias - a par da forma como elas desapareceram de Portugal e surgiram em Espanha na primeira metade do século XVI entre o património dos duques do Infantado, que depois as cederam à Colegiada de Pastrana, localidade próximo de Gaudalajara - é um dos mistérios que envolve a arte antiga portuguesa.
A organização da exposição conta com o apoio dos governos de Espanha, de Portugal e da Bélgica.
Após a sua restauração manufatura De Wit (Malines, Bélgica), por iniciativa da Fundação Carlos de Amberes, em 2008, as tapeçarias de Pastrana já foram exibidas nos Museus Reais de Arte e História de Bruxelas, no Palácio do Infantado de Guadalajara, no Museu de Santa Cruz de Toledo, no MNAA de Lisboa, na Fundação Carlos de Amberes, em Madrid.
Na Colegiada de Pastrana existem ainda mais duas tapeçarias, resultantes de uma encomenda separada que terá sido feita anos mais tarde e que ilustra a campanha de Afonso V em Alcácer Ceguer, em 1458.