O escritor português Rui Zink encerrou as conferências sobre humor na literatura que, durante uma semana, entre 8 e 12 de outubro, estiveram em destaque em Maputo, Moçambique, no âmbito 24ª edição do Curso de Literaturas em Língua Portuguesa.
Com a palestra ‘O Humor cria Sentido’, ou melhor ainda, o humor cria sentidos, o escritor referiu-se ao papel e à importância do escritor na criação do humor, mas também ao papel do leitor na descoberta do que o escritor pôs no texto. «É como o tango, são precisos dois para dançar», disse.
Desenvolvendo o tema, Rui Zink considerou que o «humor dá sentido à vida, mas quebra o sentido da frase feita». «O humor é de mau gosto? Sim, se for bem feito». E, na tentativa de o definir, acrescentou que «o humor é um movimento contrário», «é a dança do rosto e do espírito».
O humor, sustentou ainda o escritor, «não é desordem. Pelo contrário é o repor de uma ordem apenas, de uma ordem que tínhamos perdido, esquecido que, por um motivo qualquer, nos tinha sido negada». Ao tirar o leitor do sério, o humor dá aquilo que, segundo Rui Zink, a melhor literatura permite: «um mergulho dentro da alma do outro».
Promovido pelo Camões, I.P. e pela Universidade Eduardo Mondlane, apoiado pelas Páginas Amarelas, o curso incluiu quatro palestras e uma mesa redonda que ajudaram a refletir e a definir o papel e a natureza do humor na literatura.
Para além dos escritores convidados (Mia Couto e Rui Zink), a iniciativa contou ainda com os contributos dos académicos Teresa Manjate e Francisco Noa, dos cartoonistas Zimba e Neivaldo e do humorista Gilberto Mendes.
A iniciativa contou com a presença assídua de uma centena e meia de moçambicanos, de origens, formações e idades muito diversas. Apesar da heterogeneidade, o público não deixou de intervir e questionar, mantendo aceso o debate, o interesse e a atualidade do tema abordado. Esta iniciativa, já na sua 24ª edição, foi muito bem-humorada.
Para além da sua participação no Curso de Literaturas em Língua Portuguesa, Rui Zink orientou o Curso de escrita Criativa ‘Escrever de dentro, escrever para fora’.
Em três dias consecutivos, professores de português, da universidade e do ensino secundário geral, jornalistas e jovens escritores, 27 participantes ao todo, ouviram, escreveram, leram e participaram, tentando dar forma à força de escrita de cada um. «Um texto é um crime organizado: ao contrário da realidade, tem de bater certo», recordava com humor o escritor.