Uma retrospetiva da obra do realizador português João Canijo tem lugar de 2 a 12 de maio na Cineteca Nacional do México, uma das maiores cinematecas do mundo, que tem a seu cargo a preservação da memória fílmica do país e assume por missão dar a conhecer «o melhor do cinema mundial».
João Canijo, apresentado no sítio da Cineteca como «um dos cineastas mais importantes da atual geração do cinema português», deu uma conferência de imprensa a 28 de abril no México e foi entrevistado pela imprensa local.
O cineasta das narrações paralelas, assistente de realização de grandes nomes do cinema nacional e internacional como Manoel de Oliveira, Alain Tanner ou Wim Wenders, leva ao México cinco das suas mais recentes longas-metragens: Ganhar a Vida (2000), Noite Escura (2004), Mal Nascida (2007), Sangue do Meu Sangue (2011) e Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor (2011).
Segundo a Midas Filmes, a sua produtora, a homenagem a Canijo no México, que tem o apoio do Camões, IP, ocorre na semana seguinte à estreia nos cinemas em Portugal do seu mais recente trabalho, É o Amor, apresentado na Competição Nacional do Festival IndieLisboa.
Resultado de um desafio do Festival de Vila do Conde, o novo filme que Canijo dirigiu, com a colaboração da atriz Anabela Moreira, tem recolhido apreciações positivas da crítica especializada.
A anterior película de Canijo, Sangue do Meu Sangue, estreada há ano e meio no Festival de San Sebastian, onde recebeu dois prémios, foi entretanto premiada em mais seis dos quarenta festivais de cinema de todo o mundo em que foi projetado. Exibido já na sua versão em 3 partes na RTP, o filme estreou em televisão a 27 de abril na RTP1.
João Canijo é internacionalmente (re)conhecido pelo rigor da sua técnica, os seus complexos e bem trabalhados planos de sequência e a sua falta de condescendência na narração de histórias de vida que a câmara mostra impiedosamente.
Nelson Carro, subdiretor de programação da Cineteca Nacional, citado pelo sítio ‘Jornada en línea’, destacou na conferência de imprensa o reconhecimento internacional de Canijo expresso em numerosos prémios.
Quanto ao seu cinema, Carro afirmou que faz «referência direta à sociedade portuguesa, precisamente às pessoas mais marginalizadas, aos imigrantes de França, aos pobres dos subúrbios ou dos bairros mais humildes de Lisboa. O tom das histórias move-se entre a tragédia e o melodrama».
No México, Canijo referiu que os seus filmes retratam «a sociedade marginalizada, a grande maioria em Portugal». «Eu tento procurar um pretexto para filmar o que normalmente não se retrata no país, isto é, a sociedade profunda interior”, comentou.
Explicou também que sempre tem utilizado as tragédias gregas como uma espécie de «colchão» para escrever as suas próprias histórias, dado que as suas estruturas dramáticas lhe dão confiança. «Nesse sentido, há uma grande diferença entre todos meus filmes», afirmou Canijo, que classificou Sangue do Meu Sangue como o seu primeiro filme em que «tentou plasmar completamente» aquilo que era seu, «sem copiar», uma atitude que, lembrou, «não é um erro, pois alguém dizia que para seres um bom escritor, devias ser um bom copiador».