Uma retrospetiva da obra de João César Monteiro (n. 1939), desaparecido há 10 anos, vai ser apresentada de 11 a 30 de dezembro na Cinemateca Francesa, em Paris.
Quase todas as longas-metragens e muitas das curtas-metragens de César Monteiro serão exibidas na capital francesa, num ciclo apresentado por um texto de Fabrice Revault, que baliza as várias etapas do percurso cinematográfico do autor de A Sagrada Família (1972).
Revault, que dirigiu a obra coletiva Pour João César Monteiro – Contre tous les feux, le feu, mon feu (2004, Yellow Now), esboça na sua apresentação as etapas criativas do cineasta português, que, vindo da crítica, rodou o seu primeiro filme em 1971 - Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço.
Diz o apresentador do ciclo que os seus primeiros filmes abordam, de modo distanciado, contos extraídos do folclore português. Mas em Silvestre (1981), assiste-se na obra de Monteiro à emergência de qualquer coisa de essencial - «o desejo transgressivo» e depois «insubmisso».
E a partir de Recordações da Casa Amarela (1989), César Monteiro «inventa a personagem (que encarna na tela) de João de Deus, dandy misantropo e erotómano, herói de uma série de comédias estridentes, alegóricas e desesperadas como A Comédia de Deus [1995], As Bodas de Deus [1999] e Vai e Vem [2003]».
«O desejo insubmisso, sempre lá, acede ao prazer soberano. E a obra ao seu cume. Tudo não sem uma abrasiva sã ironia, omnipresente, a começar por essa personagem de ‘vencido da vida’ (expressão de Monteiro) transformando a coisa – vingança do fraco – em D. Quixote do amor e da anarquia tragicómica».
A obra de César Monteiro é a de «um verdadeiro poeta de fim de século», conclui Revault, que a 16 de dezembro proferirá uma palestra ‘Monteiro: a beleza contra o horror social’.