‘Através das Portas’ é o título da exposição do pintor angolano Mário Tendinha – um «alfarrabista de histórias», na expressão do produtor -, que vai estar patente de 27 de setembro a 19 de outubro no Centro Cultural Português do Camões, IP em Luanda.
«Transformar as portas ‘velhas’ do ‘lixo’ em obras de arte, deixando caminhos, abrindo portas para esses caminhos, felicidade, liberdade, tantos caminhos, sobretudo abrir portas como propostas, reflexões, preocupações ambientais, humor…através das portas é um pouco isso mesmo…partilha», diz, numa nota escrita sobre a exposição, Mário Tendinha, nascido em 1950 na cidade do Namibe, no sul de Angola.
«A utilização de portas já usadas, algumas, guardadoras de segredos, outras nem por isso, procuradas em obras, no lixo e à beira da ‘morte’, passarão a ter vida própria em roupagens de nkisis [dividades da mitologia bantu], xinganges [feiticeiros], dos meus feitiços desta vida que me passa pelos olhos diariamente enquanto respiro», acrescenta o pintor, que começou a desenhar e a pintar aos 18 anos, muito influenciado pelas correntes modernas da época, a música pop, os hippies e os movimentos sociais.
Num texto de apresentação, Andrew Schnitzer da Silva, produtor executivo da exposição, diz que aquilo que Mário Tendinha faz é contar histórias. Já o recurso a portas - «símbolos mitológicos e de autoconhecimento nos anos 60 por bandas como os The Doors e escritores como Aldous Huxley -, para contar essas histórias, representa «uma entrada para um mundo desconhecido», um «mundo novo», que no caso de Mário Tendinha é «o seu mundo».
«O Mário funciona como um alfarrabista de histórias. Cada recordação tem um valor único e esse valor ganha vida ao ser transformado numa obra de arte. A necessidade de uma história para o Mário é fundamental. (…) A capacidade de viver episódios passados, de sentirmos as emoções dessa aventura, de nos rirmos com o sarcasmo evidente nalgumas delas e de aprendermos, mesmo que de forma romanceada, com algumas delas, é o que nos oferece cada obra do Mário», acrescenta Andrew Schnitzer da Silva.
O produtor sublinha ainda a importância que o Namibe natal de Tendinha tem na sua obra. «Tal como o alfarrabista tem o pó a cobrir os seus livros o Mário tem a poeira do Deserto, ou o próprio do Vento Leste, entranhado nas suas histórias. O calor e também o desprendimento com que são contadas dão lhe essa característica desértica que faz com que ganhem ainda mais vida», explica.
O surrealismo e a banda desenhada marcam a obra inicial de Mário Tendinha, que se interrompe em 1974, depois de uma primeira exposição individual no Huambo, na Biblioteca Municipal, em 1972, nova exposição, no CITA em Luanda, em 1973, e participação na fundação da Oficina d’Arte, no Lubango, em conjunto com outros artistas locais, que culmina com uma grande exposição coletiva que reúne obras de artistas de toda a Angola em 1974, na cidade do Lubango.
Segundo uma nota biográfica do pintor, «apenas em 2003, depois de 25 anos sem pintar, para além de uns ‘bonecos’ que ia fazendo esporadicamente e de 28 anos sem expor, volta a mostrar o seu trabalho ao público, em Luanda, na Galeria Cenarius, na exposição ‘Lá para o sul...’».
Em 2004, apresenta-se novamente e pela primeira vez no exterior do país, em Portugal, na Casa das Artes de Famalicão, com ‘Partilhar I’, e ainda nesse ano volta a expor no Centro Cultural Português do Instituto Camões, em Luanda, apresentando ‘Partilhar II’, com novos trabalhos.
Mais recentemente, em 2009, apresentou a exposição de desenho e instalação ‘Ngolamirrors’, no Centro Cultural Português, em Luanda, onde no dizer do escritor e crítico angolano Filipe Zau, Mário Tendinha mostrou «os impulsos do subconsciente, representados sob a influência de obras de grandes mestres surrealistas, que lhe vão servindo de suporte: Picasso, Dali, Miro, Ernst, Klee».
A exposição que agora vai estar patente em Luanda tem curadoria de Benjamim Sabby.