O Mestre Braima Galissá aterrou na capital da Etiópia, na noite de 22 de fevereiro de 2019, com a bagagem cultural e musical da tradição Mandinga do Gabú, onde nasceu e se formou, e da prática das linguagens musicais de fusão nos ambientes multiculturais em que se move desde que saiu da Guiné Bissau, em 1998. Nos seis dias da sua estadia em Adis Abeba partilhou saberes e sons com músicos e público, apresentando a sonoridade límpida e rica do korá – que se ouviu, pela primeira vez naquele país – e dando palco à língua portuguesa.
O griot (djidiu) deslocou-se a Adis Abeba no âmbito de um programa cultural promovido pela Embaixada de Portugal, com o apoio do Camões, I.P., intitulado «Cruzamento de Culturas e Memórias”. Este programa visa promover o diálogo musical e intercultural entre a África Ocidental (Guiné-Bissau) e a África Oriental (Etiópia), propondo o encontro de músicos e sonoridades. O korá (cordofone com 21 a 23 cordas) foi reafinado de acordo com as regras dos modos tradicionais etíopes «tizita» e «bati» (pentatónicos) e, aliado ao krar (instrumento também cordofone, com cinco cordas e a forma de uma pequena lira), criou uma atmosfera de emoções no concerto que teve lugar no espaço VAMDAS, na quarta-feira, 27 de fevereiro. A primeira parte do concerto foi dedicada a esse delicado encontro, com canções tradicionais etíopes e duas improvisações nos modos musicais etíopes interpretados por Abebaw Asrat (krar e voz), Birhane Firew (bateria) e Mestre Galissá (korá e voz). O korá e as composições do Mestre griot protagonizaram a segunda parte, encantando a assistência. O concerto fechou com uma alegre e ritmada celebração interafricana em que o krar acompanhou o tempo e tonalidade do korá.
Na véspera, 26, no concerto dado no African Jazz Village, sala do famoso Mulatu Astatke, Mestre Galissá deu provas de versatilidade, criatividade e virtuosidade interpretativa. Ali teve a colaboração de músicos de duas bandas (Selam Band e Asli Band), apresentando composições do seu repertório, mas jogando com ritmos variados que aqueceram a sala. Fantástica também a prestação de Mestre Galissá numa jam session, no clube Fendika, na segunda-feira, com elementos da banda de jazz Kayn Lab, professores na famosa escola Jazzamba, Henock Temesgen (baixo), Abiy Woldemariam (teclas) e Teferi Asefa (bateria).
Mestre Braima Galissá vive em Portugal, participa em projetos de ensino e de promoção das culturas orais, e desenvolve projetos musicais, como o grupo Bela Nafa (que significa Benefício Comum).