Vários Estados da África e da América Latina têm pedido nos últimos anos apoio para a implantação do ensino da língua portuguesa nas suas escolas, declarou quinta-feira, 28 de fevereiro, a presidente do Camões, I.P., Ana Paula Laborinho, que considerou, contudo, ter havido «retrocessos» na integração do português nos sistemas de ensino europeus.
Ana Paulo Laborinho, que falava, em Lisboa, no 2º dia de trabalhos do I Congresso Internacional de Língua Portuguesa, deu como exemplos a Namíbia, que no próximo ano letivo disponibilizará aulas de português em 14 escolas, ou o Senegal onde 30 mil alunos aprendem português.
Em declarações aos jornalistas à margem da reunião, a Presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua defendeu também a necessidade de apostar na formação de mais tradutores e intérpretes para assegurar o alargamento da presença do português nas organizações internacionais, um objetivo definido em 2010 pelos países da CPLP.
Ana Paula Laborinho afirmou que não basta vontade política para o português estar presente nas organizações internacionais. «É preciso fazer um trabalho prévio de formação de intérpretes de conferência e, sobretudo, conseguir que eles tenham outras línguas, que não as mais tradicionais, como línguas ativas, nomeadamente línguas africanas», disse Ana Paula Laborinho, que evocou o caso do swahili.
Sobre o objetivo de ter o português como língua de trabalho nas Nações Unidas, a Presidente do Camões, I.P., indicou que às dificuldades associadas à escassez de tradutores e intérpretes se somam os custos de manter uma estrutura de tradução em permanência.
O português é língua de trabalho de várias organizações regionais e internacionais, incluindo a União Europeia, União Africana, Mercosul ou a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Sobre o ensino do português na Europa, Ana Paulo Laborinho, afirmou na sua intervenção no Congresso Internacional, organizado pelo Observatório da Língua Portuguesa e pela Universidade Lusíada, que até 2010 havia muitos países na Europa disponíveis para oferecerem aulas de português nas suas escolas, um cenário que a crise económica veio alterar.
«Houve retrocessos claros na integração do português nos sistemas de ensino» na Europa, declarou a Presidente do Camões, I.P., adiantando que, tal alteração, levou o Estado português a manter a aposta nos chamados cursos paralelos, lecionados fora dos horários normais por professores pagos por si.
«Ao ser integrado nos sistemas de ensino [locais] a responsabilidade de pagamento dos professores passa para os países e, naturalmente, que eles recuam, porque isso implica mais despesa», explicou a Presidente do Camões, I.P., adiantando que países como a França, onde o processo estava mais avançado, optaram por «fazer um compasso de espera por razões financeiras».
Ana Paula Laborinho ressalvou que o número de cursos integrados não foi reduzido, mas assume que falhou a «integração mais massiva que era o grande objetivo» político do Governo para esta área.
A rede de Ensino Português no Estrangeiro (EPE), da responsabilidade do Camões, I.P., inclui cursos de português integrados nos sistemas de ensino locais e cursos associativos e paralelos, assegurados pelo Estado português, em países como a Alemanha, Espanha, Andorra, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Reino Unido, Suíça, África do Sul, Namíbia, Suazilândia e Zimbabué.
Este ano letivo, frequentam os cursos de Ensino Português no Estrangeiro 57.212 alunos (56.191 em 2011/2012), distribuídos por 3.603 cursos (3.621 no ano anterior).
Fonte: Lusa