Vai estar patente ao público entre 16 de abril e 16 de maio, no Centro Nacional de Artesanato e Design, no Mindelo, a exposição de fotografia “Espelho de Prata - um olhar sobre a Coleção Foto Melo” com a curadoria de Diogo Bento.
A exposição está inserida no projeto de organização e conservação da coleção de fotografia Foto Melo, desenvolvido entre julho e dezembro de 2011, ao abrigo do programa de estágios internacionais INOV-Art, lançado pela Direção-Geral das Artes/Ministério da Cultura em Portugal, desenvolvido por Diogo Bento, cuja candidatura contou com o apoio institucional do Instituto Camões / Centro Cultural Português no Mindelo. Esta exposição pretende marcar um momento significativo na história desta coleção, o início de uma nova dinâmica (apesar de ter sido já feito um estudo preliminar, por Isabel Victor e Bruno Ferro, em 2009) que pretende culminar na organização e conservação dos mais de 150.000 negativos, milhares de provas em papel e outro material fotográfico como tinas de revelação, iluminação ou câmaras fotográficas. É, ainda, a primeira vez que esta coleção de fotografia particular é mostrada ao público em Cabo Verde, de uma forma global e estruturada.
É com base nestes três eixos que se desenvolve a curadoria desta exposição. Por um lado, mostrar o trabalho que foi desenvolvido durante os 6 meses do programa e, por outro lado, divulgar a própria coleção, de modo a criar uma certa sensibilização para os aspetos inerentes à sua futura organização e conservação; por último, dar uma perspetiva geral da diversidade de assuntos e formatos contidos nesta coleção, assim como pistas sobre a sua origem e motivos da sua pertinência no contexto histórico e cultural mindelense e cabo-verdiano.
É ainda apresentado um documentário, com realização de Diogo Bento e Edson Delgado (som de David Medina), onde se pretendeu resgatar e arquivar as memórias de quem conheceu a Foto Melo, conviveu ou trabalhou entre portas, da família, entre outros.
A exposição tem o apoio, entre outros, do programa INOV-ART e da Fundação Calouste Gulbenkian.
Diogo Bento (Trás-os-Montes, 1984), é licenciado em Arquitetura Paisagista pelo Instituto Superior de Agronomia. Desde 2009 que a sua principal atividade se desenvolve em torno da fotografia. Tem o curso de fotografia básico do Ar.Co e terminou em 2011 a Pós-graduação em Fotografia, Projeto e Arte Contemporânea (IPA/Ateliê de Lisboa). Colaborou como fotógrafo com um dos principais ateliês de arquitetura paisagista portugueses e realizou um estágio na LUPA, empresa de referência nos domínios da organização e conservação de coleções de fotografia. Tem participado em diversas exposições individuais e coletivas.
A Foto Melo foi fundada em 1890 por João Henriques de Melo (nascido em S. Filipe, Fogo, em 1871, sabe-se que antes de se instalar em S. Vicente viveu nas ilhas de S. Tiago e S. Nicolau. Era filho de Vítor José de Melo, nascido em Lisboa em 1828, que se instalou na ilha do Fogo onde casou com Maria José Medina Henriques, natural de S. Filipe) (Djindjon), tendo depois passado para as mãos de seu filho, Eduardo Ernesto Trigo de Melo (Papim), que a manteve em funcionamento até 1992. Não é a casa fotográfica mais antiga de Mindelo - o relatório do administrador J. Vieira Botelho, referente ao período 1880-1882, dá conta da existência de três fotógrafos na cidade - mas é a única que sobreviveu mais de um século.
Vinte anos depois do encerramento da Foto Melo, era urgente reunir, catalogar e preservar a sua coleção de fotografia, que é propriedade da família. Em princípios de 2011, Diogo Bento, com o apoio institucional do IC / Centro Cultural Português no Mindelo, apresentou o projeto de organização e conservação desse espólio, à 3ª edição do Programa INOV-Art da Direção-Geral das Artes de Portugal que deu o necessário apoio financeiro.
Ao longo de um estágio, que durou seis meses e terminou a 31 de Dezembro de 2011, foi possível reunir e acondicionar, em relativa segurança, o acervo da Foto Melo. Foi também concluída a rotulagem de todas as unidades de instalação e o inventário de uma amostra da coleção (que abarca a sua diversidade em termos de espécies fotográficas, formatos e temáticas).
Apenas com uma parte da coleção inventariada é possível perceber que estamos perante um valioso património documental, que será fundamental para o estudo e preservação da história, da memória e da identidade desta ilha e de Cabo Verde. A longevidade deste estabelecimento torna o acervo igualmente valioso para o estudo dos processos fotográficos pois é constituído por negativos em vidro e em película, com suporte de nitrato, acetato de celulose ou poliéster, na sua grande maioria a preto e branco mas também a cores. É também um património artístico já que permite traçar diferentes opções estéticas ao longo de um século. Para os mindelenses, tem ainda um enorme significado afetivo, pois a coleção é, na sua maior parte, constituída por negativos de retratos individuais, de família ou de grupos que permitirão recuperar a memória de afetos e de um quotidiano há muito desaparecido.