São novos. Alguns muito novos, outros nem tanto. O mais velho nasceu em 1964, os mais novos em 1988, pelo menos dos que foi possível apurar a data de nascimento. São os fotógrafos portugueses cujos trabalhos vão dar corpo ao ‘Ciclo de Fotografia Portuguesa’ no Brasil, em fevereiro e março. São apresentados pelos organizadores do evento como «a maior delegação da história de fotógrafos portugueses» que Curitiba, a capital do Estado do Paraná, no sul do país, irá receber.
O ciclo, integrado no Ano de Portugal no Brasil e apoiado pelo Camões, IP, tem uma «mostra oficial», a ser realizada no Museu Municipal de Arte – MuMA, e outra «paralela», em diversos locais de Curitiba.
Mas as mostras não esgotam a programação, que pretende também «discutir amplamente a fotografia artística dentro dos cenários português e brasileiro». É o que visa, aparentemente, a participação no ciclo de «uma das maiores teóricas portuguesas da fotografia contemporânea, Margarida Medeiros, professora universitária, autora do livro Fotografia e Narcisismo — O Auto-retrato Contemporâneo, entre outros». A docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa proferirá em sessões abertas na Universidade Positivo duas palestras, a 4 e 7 de fevereiro, com os temas ‘Espíritos contemporâneos: quando a arte e os outros mundos se entrecruzam’ e ‘Representar o observável: contaminações entre a fotografia e a pintura’, segundo refere o comunicado de imprensa sobre o Ciclo.
As palestras, a que se juntam ‘conversas’ com os autores das obras e oficinas de trabalho, dão aliás o mote da fotografia portuguesa que será mostrada em Curitiba, plenamente integrada no mundo das artes plásticas ou até mesmo da criação multidisciplinar, quando nos apercebemos que muitos dos fotógrafos têm outros interesses: pintura - como Teresa Palma (n. 1978) -, música –como Rodrigo Amado (n. 1964), saxofonista – cinema – como Cláudia Rita Oliveira – ou participam em performances – como Francisca Veiga -, ou têm um passado como conservadores e restauradores, o caso de Rodrigo Bettencourt da Câmara. Outros, como João Serra (n. 1976), Helena Peralta (n. 1988) ou Mariana Marote (n. 1988) parecem mais concentrados na fotografia, embora esta última faça um trabalho de recriação sobre a imagem fotográfica. A curadoria do Ciclo diz, aliás, que este «contempla fotógrafos portugueses da nova geração, porém em diferentes estágios de suas carreiras profissionais, oferecendo um panorama das temáticas e direções da fotografia na arte contemporânea produzida em Portugal».
«Mostra paralela»
«Expondo temáticas que caminham entre a relação das ciências sociais e a fotografia, estudos de luz e técnicas e natureza morta urbana, a exposição contempla trabalhos conceptuais e com grande potencial reflexivo», garantem os organizadores. As três ‘Conversa com artistas’, agendadas logo para os primeiros dias da «mostra oficial», 4, 5 e 7 de fevereiro, prometem isso mesmo, quando se propõem abordar os temas ‘Fotografia enquanto narrativa: a estreita relação entre cinema e fotografia’, ‘Devaneios urbanos: a fotografia e seus aspetos sociais’ e ‘Fotografia e Arte Contemporânea: entre e a forma e a mensagem’.
A «mostra paralela» quase se poderia chamar ‘ciclo da fotografia brasileira em Portugal’, porque é da representação fotográfica de Portugal por autores brasileiros que se trata. E, de certa forma, exibe também o lado ausente da «mostra oficial» - o fotojornalismo.
A exposição Arqueolojista, da fotojornalista Mami Pereira na Galeria Ponto de Fuga de Curitiba, quer «mostrar Lisboa através de seu comércio tradicional», levando a Curitiba «um pouco do clima pitoresco da capital portuguesa» e «registando espaços familiares, pequenos comércios ainda em atividade pelas ruas tortuosas de Lisboa».
Esse Olhar Brasileiro em Terras Portuguesas está expressamente nas intenções da outra exposição da «mostra paralela», no Museu da Fotografia de Curitiba, com trabalhos dos fotógrafos Flávio Damm, Orlando Azevedo, Nilo Neto e Pedro Vieira.
«Paralelo» ou «oficial», o ciclo da fotografia portuguesa em Curitiba mostra uma outra imagem de Portugal, «pitoresca» ainda para alguns, mas sobretudo mais preocupada com a contemporaneidade.