No âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, teve lugar, no dia 8 de junho de 2021, a inauguração, na praça berlinense Bebelplatz - onde, em maio de 1933, decorreu a queima de livros decretada pelo regime nazi - , uma instalação com livros de autores portugueses e alemães censurados, apreendidos e queimados durante o período em que, em Portugal e na Alemanha, vigoraram regimes ditatoriais.
A instalação, com curadoria de Patrícia Severino, a comissária do projeto “Portugal País Convidado da feira do Livro de Leipzig”, propõe um diálogo entre o memorial do artista israelita Micha Ullman – a biblioteca vazia subterrânea – e uma cabine de livros censurados durante a ditadura portuguesa e queimados pelo regime nazi na Alemanha. Nesta instalação convergem assim dois acontecimentos, ambos sucedidos no ano de 1933: na Alemanha, a queima de livros; e, em Portugal, a instauração da censura prévia.
Encontram-se em exposição livros de autores então proibidos e perseguidos em cada um dos países: Anna Seghers, Alfred Döblin, Bertold Brecht, Heinrich Heine, Herberto Helder, José Cardoso Pires, Judith Teixeira, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, Natália Correia, Rosa Luxemburgo, Vergílio Ferreira, entre outros, ocupam agora o espaço onde, na Alemanha, se consubstanciou o início de uma guerra impiedosa contra a arte, a cultura e o pensamento livre.
Depois de Bebelplatz, a instalação, promovida pela Embaixada de Portugal na Alemanha e pelo Camões - Centro Cultural Português em Berlim, ficará em exposição no pátio exterior da Biblioteca da capital alemã, na Avenida Unter den Linden. É uma das mais importantes bibliotecas do mundo e um dos maiores edifícios de Berlim. Construída no início do século XX, sofreu danos extensos durante a segunda guerra mundial e uma demolição parcial sob a RDA. Esteve em obras de renovação durante 16 anos, tendo tido lugar, a 25 de janeiro deste ano, uma cerimónia digital de reabertura que, em rigor, apenas se pôde concretizar no passado dia 4 de junho.
Em 2022, Portugal apresentar-se-á como “País Convidado da Feira do Livro de Leipzig”, sob o mote O Encontro Inesperado do Diverso. A escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol estabeleceu uma ponte entre Lisboa e Leipzig no seu livro Lisboaleipzig, convocando um encontro entre Fernando Pessoa e Johann Sebastian Bach, um encontro inesperado de duas figuras da cultura portuguesa e alemã.