A Universidade Indonésia (UI) vai criar já a partir de Setembro próximo na sua Faculdade de Ciências Humanas uma graduação minor em Estudos Portugueses, nos termos de um protocolo com o Instituto Camões (IC).
Número 127 · 2 de Julho de 2008 · Suplemento do JL n.º 985, ano XXVIII
O objectivo é, a prazo, criar uma licenciatura de Estudos Portugueses (programa major) na Universitas Indonesia, criação essa que deverá ser objecto de um novo acordo com o IC, a ser negociado no primeiro semestre de 2010.
«Não estaríamos longe da verdade se considerássemos que, se a lusofonia fosse um sentimento, ela estaria presente na Indonésia!», sustenta a leitora de Língua e Cultura Portuguesa da UI, Maria Emília Irmler, que explica ter a ideia de criar um programa de Estudos Portugueses surgido do crescimento «comprovável» das relações bilaterais e do aumento do número de estudantes de Português.
A assinatura do protocolo vem culminar um processo negocial com a UI, uma universidade estatal em processo de privatização, que se iniciou formalmente em Outubro de 2007, conduzido pelo embaixador de Portugal na Indonésia, José Manuel dos Santos Braga.
A abertura do minor de Estudos Portugueses vai preceder de um ano a criação de idêntico curso de Estudos Hispânicos na Universidade Indonésia, que conta presentemente apenas com um leitorado de Língua e Cultura Portuguesa.
Para além dos cursos na área das Humanidades, a Faculdade de Ciências Humanas da UI oferece o ensino de 25 línguas, oito das quais europeias (Alemão, Espanhol, Francês, Holandês, Inglês, Italiano, Português e Russo), sendo o português a opção mais recente. Apenas 11 línguas estão representadas com programas de licenciatura, mestrado e doutoramento, entre as quais o Alemão, o Francês, o Holandês, o Inglês e o Russo.
O ensino da Língua e Cultura portuguesa, na Indonésia, sob os auspícios do Instituto Camões, teve início no ano lectivo de 2000/1, mas apenas em 2004/5, o leitorado passou a desenvolver actividades docentes na Faculdade de Ciências Humanas da UI. Inserido no Departamento de Línguas Românicas, tem um estatuto semelhante ao dos leitorados de Espanhol e Italiano, funcionando a Língua e a Cultura Portuguesa como uma disciplina de opção no leque de licenciaturas ministradas na UI.
Até agora, os estudantes têm tido acesso apenas aos níveis de Iniciação I e II. No ano lectivo terminado, os cursos foram frequentados por 120 alunos, em cada semestre.
Valor competitivo
O diploma minor insere-se num sistema cuja terminologia é diferente da usada para o ensino superior na Europa, apesar da sua concepção se poder integrar nas reformas da Declaração de Bolonha. Na UI, considera-se licenciatura um curso ao qual é atribuído um valor composto por cerca de 145 créditos (cerca de 8 semestres). Existem outras designações, relativas a diplomas com perfis e número de créditos diferenciados, entre os quais se situam os diplomas menores.
O minor de Estudos Portugueses terá 32 créditos. No entanto, na comparação com licenciaturas na área das línguas, «o peso significativo atribuído ao estudo da Língua Portuguesa, dá ao diploma um nível muito próximo da licenciatura, conferindo-lhe, em termos reais, um valor competitivo», afirma a leitora Maria Emília Irmler. Tomando como referência a licenciatura de Francês, a língua representa nesta 24 créditos. O diploma minor de Estudos Portugueses vai dedicar-lhe 20 créditos.
Nos termos do protocolo, o programa da graduação em Estudos Portugueses, a ser aplicado até Julho de 2010, «consiste em 4 (quatro) Disciplinas de Língua Portuguesa (I, II, III, IV), cada uma das quais com um horário de aulas de 600 minutos semanais, 1 (uma) disciplina de Introdução às Técnicas e Prática de Tradução com um horário de aulas de 200 minutos semanais, bem como 4 (quatro) outras disciplinas, cada uma das quais com um horário de aulas de 150 minutos semanais: Relações Luso-Indonésias; Portugal Contemporâneo; História Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa; Literatura e Cultura nos Países de Língua Portuguesa».
O leque total de 9 disciplinas será ministrado durante 4 semestres, obedecendo o sistema de avaliação aos critérios estabelecidos pela UI, segundo Maria Emília Irmler.
O curso está aberto a todos os que frequentam a UI. «Os estudantes poderão frequentar em simultâneo com outros programas o diploma minor, cujo valor pode ser considerado complementar, proporcionando uma dimensão mais técnica, vocacionada para saídas profissionais», considera a leitora.
Tendo em conta esta preocupação, valorizou-se a «aproximação do currículo aos países de língua portuguesa, sobretudo àqueles que têm missões diplomáticas na Indonésia», declara Maria Emília Irmler, acrescentando que esse posicionamento mereceu «o melhor acolhimento por parte do Brasil, Moçambique e Timor-Leste». «No âmbito das relações de Portugal e destes países com a Indonésia, existe um largo potencial de saídas profissionais que não deixam de merecer o interesse dos estudantes indonésios. Como exemplo, apontam-se necessidades nas áreas da tradução, do turismo, da hotelaria e de outras actividades inerentes às relações bilaterais».
Com efeito, sublinha Maria Emília Irmler, ainda não existem dicionários bilingues, Indonésio/Português ou Português/Indonésio e na Indonésia não se conhece um único tradutor para as duas línguas.
O protocolo
De acordo com o protocolo, o Instituto Camões compromete-se a fornecer e remunerar um professor de Língua Portuguesa, que será subsequentemente aprovado e nomeado pela UI, o qual terá, entre as suas funções, a responsabilidade de ensinar a didáctica do Português como Língua Estrangeira aos futuros professores indonésios e de definir os conteúdos dos cursos de Língua Portuguesa.
O IC financiará também a elaboração dos currículos e atribuirá anualmente uma bolsa para aprendizagem da Língua ou para Investigação a graduados indonésios, com vista à melhoria das suas competências e qualificações no domínio da Língua Portuguesa, bem como fornecerá livros e materiais audiovisuais e multimédia.
A formação de um corpo docente indonésio é o aspecto do protocolo que Maria Emília Irmler regista com mais satisfação, pois, em seu entender, ele é «fundamental para sedimentar e dar continuação aos Estudos Portugueses, de forma autónoma».
Com vista à abertura do curso em Setembro, a leitora ministrou durante o mês de Junho um curso intensivo de Língua Portuguesa dirigido aos futuros docentes indonésios do minor, um oriundo do Departamento de História e dois do Departamento de Francês, que leccionarão (em indonésio) as disciplinas de Cultura, ficando as de Língua Portuguesa à responsabilidade de Maria Emília Irmler.
Em preparação estão os programas do Plano de Estudos. O grupo de docentes responsáveis pelo curso está a proceder às pesquisas, recolha e selecção dos recursos documentais e bibliográficos.
Simultaneamente, está a ser criado um centro de recursos, aprovisionado de materiais bibliográficos nas áreas da História, Geografia, Literatura, Filosofia, Ciências Sociais e Políticas, Património e Cultura, relativas à Lusofonia e, em particular, aos países de Língua Portuguesa representados na Indonésia. Este espaço vai inserir-se na Biblioteca da Faculdade de Ciências Humanas, na UI.
No âmbito dos preparativos, o IC apoiou também a contratação de um monitor durante o semestre que agora terminou.
Actividade preparatória foi a realização na UI, de 21 a 23 de Maio último, do Festival de Línguas Românicas, que teve como objectivo principal a divulgação da abertura do minor, cuja realização foi impulsionada pela docente indonésia responsável pela preparação do curso, Ari Harapan (coordenadora do Departamento de Francês).
Em Setembro todos estes preparativos serão submetidos ao teste da realidade.