É de certa maneira o normal renovar de um encontro antigo o concerto que Rodrigo Leão vai realizar na abertura da VII Mostra Portuguesa em Espanha, no Teatro da Zarzuela, em Madrid, a 2 de Novembro, repetido dia 24, no Palau de la Musica, em Barcelona.
Espanha, como reconhece aquele que é certamente um dos mais criativos músicos portugueses da sua geração, «é dos países onde nós tocamos com mais frequência». «Há uma ligação desde os primeiros discos, há 15, 16 anos», acrescenta Rodrigo Leão (n. 1964). «Vamos lá tocar com alguma regularidade».
O primeiro disco a solo de um dos fundadores dos Sétima Legião e dos Madredeus, Ave Mundi Luminar (1993), foi «muito bem recebido» pelo público espanhol e daí resultou que, «a uma determinada altura, nós quase fazíamos mais concertos lá do que cá», recorda. «Aqui há dez-quinze anos havia muito mais público para a música que eu fazia em Espanha do que em Portugal. Agora penso que as coisas estão mais equilibradas».
A boa recepção, reconhece, traduziu-se nas vendas. Ave Mundi Luminar vendeu em Espanha quase cinco mil discos. Em Portugal vendeu seis ou sete mil. Hoje em dia, o músico de Pasión vende mais em Portugal do que em Espanha, mas reconhece que o país vizinho é um mercado de relevo, só que com os descarregamentos na internet as vendas de discos já não têm a mesma importância…
Embora os espanhóis não conheçam hoje em dia tão bem a sua música como os portugueses, têm «uma certa curiosidade em assistir a concertos que não são da música pop ou música de massas», diz. «Claro que a minha música tem alguma influência da música pop, de alguma música popular e de alguma música clássica, mas não se enquadra facilmente num estilo musical». É aquilo que «os espanhóis muitas vezes chamam o new age».
Detentor de uma linguagem musical mais ‘universalista’ que o afasta de músicos e cantores portugueses mais assumidamente ‘étnicos’, como Mariza, os Madredeus e a nova geração de fadistas, Rodrigo Leão admite que será menos conhecido lá fora. O seu circuito, sublinha, é «diferente». «As minhas músicas vão sendo utilizadas por vezes em documentários, em filmes, e nós vamos fazendo concertos» lá fora, garante. Além de Espanha, nos últimos 3-4 anos, a pouco e pouco, como faz questão de frisar, ele e a sua banda têm vindo a tocar na Grécia, na Itália, na Alemanha e na França.
De qualquer forma, ‘ser conhecido lá fora’ é algo que não preocupa Rodrigo Leão. «A mim interessa-me ir fazendo os meus discos, as músicas que quero fazer na altura, com os colaboradores que penso que se ajustam mais […] , sem pensar muito se essas músicas vão ser conhecidas lá fora ou não».
Claro que ter a oportunidade de tocar no estrangeiro é importante e fazer chegar a sua música a mais gente dá-lhe contentamento. É uma questão que trata com o seu agente António Cunha. «Mas não é uma parte essencial. Se acontecer, acontece…». E remata: «não sei se tenho muito essa percepção de quanto é que serei conhecido lá fora…».
Esta tranquilidade com que encara a questão ‘lá fora’ é a mesma com que se posiciona na sua carreira, já longa de 27/28 anos. «Não há assim uma pressa muito grande como havia se calhar há muitos anos – recordo-me do tempo da Sétima Legião, mesmo os Madredeus no início. Fazer um disco, fazer uma tournée e, depois, fazer logo outro disco. Em que se se passassem dois anos e não saísse um disco já era um bocadinho estranho. O que é que teria acontecido ao grupo? Havia o receio de o grupo desaparecer, ou uma coisa [do género]… Neste momento eu não sinto isso. O objectivo é continuar literalmente à procura de momentos de inspiração para fazer as minhas músicas. E continuar a fazer discos».
Agora, Rodrigo Leão e a sua banda, o Cinema Ensemble, regressam a Espanha como cabeças de cartaz da Mostra Portuguesa, um papel que o autor e músico português já tinha tido na 2ª edição deste evento, em 2004, o ano de lançamento de Cinema, o álbum que estabelece em definitivo o seu lugar na música portuguesa.
A apresentação de Rodrigo Leão na Mostra de 2009 coincide com o lançamento em Espanha do seu mais recente álbum, A Mãe, saído em Portugal no início deste Verão. É o primeiro álbum de originais nos últimos «quatro ou cinco anos», segundo diz. Por isso, sublinha o compositor, para além de ser um prazer, «faz todo o sentido para nós irmos lá tocar agora nesta altura».
O concerto tem assim como base o novo álbum de originais de Rodrigo Leão, «mas obviamente que tem sempre músicas de outros discos». Será no dizer do músico um espectáculo que viverá de «contrastes», entre algumas peças mais «tranquilas» e «intimistas», na sua expressão, e «um outro momento se calhar não tão intimista, mais alegre», sejam instrumentais ou canções em castelhano, português e até inglês.
Encarte Camões no JL n.º 144
Suplemento da edição n.º 1019, de 21 de outubro a 3 de novembro de 2009, do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias