"Where are you from? Contemporary Portuguese Art"
Vídeos, fotografias, desenhos, esculturas e montagens com materiais "improváveis" foram os meios escolhidos para dar forma às obras com que 21 artistas portugueses, "emergentes e a meio de carreira", dizem "de onde vêm" numa exposição multimédia que está até 20 de Abril na Faulconer Gallery, Grinnell College, Grinnell, Iowa (EUA), também ele um local "não previsível" para acolher arte contemporânea portuguesa.
Número 122 · 13 de Fevereiro de 2008 · Suplemento do JL n.º 975, ano XXVII
Esta mostra, que conta com o apoio do Instituto Camões, resulta das deslocações de Lesley Wright, directora da Galeria, e de Jane Gilmor, docente de arte no Mount Mercy College, em 2006 e 2007 a Portugal, onde reuniram um conjunto de obras de artistas que "nunca seriam vistos juntos como um grupo em Portugal", segundo afirma Wright, citada pelo site da galeria.
É que, explica a responsável pela Faulconer Gallery, "os curadores do Iowa vêem o mundo da arte portuguesa através de filtros diferentes".
A ideia da exposição pertenceu a Jane Gilmor, depois que esteve em Portugal pela primeira vez no Verão de 2003, como bolseira da Fundação Fullbright, para dar aulas no Departamento de Artes Visuais da Universidade Évora. Dos contactos estabelecidos nessa e noutras deslocações, a professora do Mount Mercy College concluiu que "havia algo de novo a acontecer em Portugal e no meio artístico, com consequências ainda por avaliar em toda a sua extensão".
A exposição do Iowa não surge isolada, inserindo-se numa série de iniciativas sobre arte portuguesa nos Estados Unidos, que vão da arquitectura ao design, confirmando que "o panorama artístico português está na vanguarda das artes", no entender de Manuel Silva Pereira, conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Washington.
Trata-se, sublinha, de uma "abordagem nova e diferente" de um país que se projectava até agora no mundo pelo seu papel no movimento dos Descobrimentos.
O Grinnell College é uma instituição universitária americana com 1.500 estudantes de quase todos os Estados norte-americanos e de 50 países e que possui entre as suas instituições a Faulconer Gallery, que tem promovido exposições de vários países no Iowa, um Estado que as presidenciais norte-americanas projectam no mundo de quatro em quatro anos.
Para além da exposição principal, com os trabalhos de todos os 21 artistas, a Janalyn Hanson White Gallery no Mount Mercy College, apresenta duas mostras mais pequenas - "Na Margem - No Centro: Nova Arte Portuguesa, Partes I e II", a primeira das quais a decorrer desde 8 de Fevereiro até 14 de Março - com obras de alguns dos artistas participantes na exposição principal, e a galeria de Arte da Universidade do Iowa do Norte (UNI), exibirá uma mostra intitulada " Novas Polifonias: Arte Portuguesa Contemporânea" (13 de Fevereiro-6 de Março), permitindo uma visão aprofundada da obra de seis dos artistas presentes.
É a própria "estranheza" e "peculiaridade" de ver arte contemporânea portuguesa - que está "para lá das fronteiras do mundo da arte conhecido" - em Grinnell, "ou em Cedar Rapids ou Cedar Falls, Iowa", no American Midwest, sem para tal haver qualquer razão "reconhecível" que justifica, no dizer de Lesley Wright, colocar a questão "de onde vens?", o tema da exposição.
Tendo partido da dicotomia centro-periferia na produção de arte, o conceito da exposição evoluiu rapidamente, como explica Gilmor, para a questão do que é ser um artista plástico do "Iowa" ou "português" num mundo artístico cada vez mais globalizado.
"Os artistas portugueses vêem-se a eles próprios como parte de um mundo mais amplo, o mundo da arte global, enquanto se identificam também estreitamente com a sua herança portuguesa. Ao fazer a pergunta ‘de onde vens?\' instamo-los a darem uma variedade de respostas", explica por seu lado a directora da Faulconer Gallery.
Entre os trabalhos em exibição está um documentário sobre uma família portuguesa, uma casa de bonecas, uma paisagem urbana sob uma bolha de nylon insuflável, trigo a crescer numa Bíblia, um vídeo feito de centenas de capas de discos e um trabalho baseado na indústria de conservas, na descrição feita pela própria galeria.
Da lista dos 21 artistas portugueses presentes na exposição fazem parte Carlos Bunga, António Caramelo, Pedro Valdez Cardoso, André Cepeda, Teresa Furtado, João Leonardo, Dina Campos Lopes, Manuel Santos Maia, Eduardo Matos, Marta de Menezes, Rodrigo Oliveira, Miguel Palma, Nuno Pedrosa, Ana Pérez-Quiroga, António e Paula Reaes Pinto, Pedro Portugal, Filipe Rocha da Silva, José Carlos Teixeira, Rui Toscano, Rui Valério.
Estes autores têm uma ampla variedade de experiências de vida, estudo e de exibição do seu trabalho pelo mundo. Alguns nasceram no Brasil, Angola ou Moçambique e há quem tenha estado em Berlim, Nova Iorque, Londres, São Francisco, Los Angeles, Espanha, Austrália, Holanda, Marrocos, mas todos marcam presença na cena das artes portuguesa, segundo os organizadores da exposição.
"A certa altura comecei a pensar nos artistas portugueses (...) como nómadas. Muitos dos artistas que conheci saíram mais do que uma vez de Portugal, para estudar ou viver num dos centros de arte europeus ou em Nova Iorque", refere Jane Gilmor.
O catálogo bilingue da exposição, que inclui textos de Wright, Gilmor e do curador e crítico de arte português Miguel von Hafe Pérez (que foi programador da área de artes plásticas e arquitectura do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura), explora, segundo o site da exposição, "a ligação entre os trabalhos dos artistas, a sua identidade pessoal e geográfica e as suas explorações da cultura, história e família através da arte".
A exposição, que abriu a 1 de Fevereiro, é pontuada por um conjunto de eventos, no decurso dos quais alguns dos artistas presentes na mostra falarão em Grinnell da arte contemporânea portuguesa e da sua obra.