Exposição Novas Geografias retorna a Londres
Olha-se para os mapas e reconhecem-se os grandes contornos. Olha-se para as legendas e a sensação de estranheza é imediata: Calcutá fica ao pé de Loures? O Rio de Janeiro é na Caparica? Osaka em Kingston Upon Thames ou Caracas no centro de Amesterdão?
Número 129 · 27 de Agosto de 2008 · Suplemento do JL n.º 989, ano XXVIII
A resposta será: também! É o que parecem dizer os «mapas» da artista plástica Mónica de Miranda (n. 1976) mostrados na exposição Novas Geografias que a 4 de Setembro próximo retorna a Londres, de onde partiu na Primavera de 2007 da 198 Gallery - Contemporary Arts and Learning, para um périplo por Lisboa (Plataforma Revólver e Voyeur Project View) e Amesterdão (Imagine IC), na Primavera-Verão de 2008, agora com regresso à «casa de partida».
É um facto que as grandes metrópoles ocidentais estão hoje cheias das suas chinatowns ou das suas little Índias, dos seus restaurantes de comidas exóticas ou lojas de gadgets feitos a milhares de quilómetros, trazidos juntamente com os funcionários que os vendem. São apenas a face mais visível de um mundo (leia-se gente) que de repente saiu do «seu» lugar, migrou e refez identidades, suas e daqueles com quem passou a partilhar os espaços urbanos.
Estas «geografias imaginadas», na expressão de Paul Godwin, um geógrafo que é «curador intercultural» na Tate Britain, são uma das facetas dos trabalhos apresentados por Mónica de Miranda, que recorre intensamente à fotografia, ao vídeo e às instalações para operar sobre essa nova realidade criada na Europa pelas migrações dos últimos 30 anos.
Tuning, um vídeo em tempo real, primeiro montado após uma viagem de Mónica de Miranda por Londres, e depois repetido relativamente a Lisboa e Amesterdão, dá precisamente uma panorâmica das diferentes «paisagens culturais» que se encontram nas capitais euroepias.
A trajectória pessoal da artista, aparentemente também em trânsito entre capitais europeias, explica o interesse pelo tema. Mónica de Miranda «é uma artista cuja biografia cruza diferentes nacionalidades reflectindo-se desde logo essa intersecção fértil de referências no seu próprio trabalho», diz Lúcia Marques, curadora da etapa lisboeta, no catálogo da exposição, editado com o apoio do Instituto Camões.
A exposição, afirma a artista plástica, «é uma reflexão da minha própria experiência de imigração e relação com essa realidade dentro da minha comunidade pessoal de amigos e familiares. Reflicto sobre a minha biografia e território transcultural que ocupo no mundo».
Esta exposição itinerante é de certa forma um work in progress. Começou por ser uma mostra de oito trabalhos «feitos em torno das diferentes comunidades de imigrantes que vivem na capital britânica, estabelecendo importantes pontes com o seu contexto expositivo», adianta Lúcia Marques. Em Lisboa foi a mesma e outra exposição, pois houve a «produção de novas peças relacionadas com a malha sócio-cultural da cidade e a readaptação de outros trabalhos ao contexto expositivo». Um processo repetido em Amesterdão.
É o resultado desta itinerância que agora será exposto a partir de 4 de Setembro na 198 Gallery, de Londres, que apresentará «uma selecção das novas obras realizadas nas capitais inglesa, portuguesa e holandesa».