Na «vanguarda» de uma identidade lusófona supranacional

Oficina de trabalho examina em Oxford as relações entre «Diáspora, Império e a Formação do Mundo Lusófono»

As comunidades de migrantes de diversas origens que se espalharam na malha do (3º) império colonial português (o africano) estão hoje na «vanguarda» da criação de uma identidade lusófona supranacional. Esta parece ser a tese essencial que será examinada numa oficina de trabalho a ter lugar a 25-26 de Setembro na Universidade de Oxford, organizado pelo Oxford Reasearch Network on Government in Africa (OReNGA) e pelo Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões em Oxford (CLP/IC), com a participação de investigadores dos Estados Unidos, França, Suíça, Portugal e Reino Unido.

Número 130   ·   24 de Setembro de 2008   ·   Suplemento do JL n.º 991, ano XXVIII

Oxford
Oxford, Bodleian Library. Foto Gideon Malias CC
Segundo Luísa Pinto Teixeira, responsável do CLP/IC de Oxford, «trata-se do primeiro encontro internacional de académicos sobre este tema».

«Do Império à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), pretendemos avançar, e testar, as noções (a) se a diáspora teve um papel importante na construção da cultura do Terceiro Império Português, e (b) se a(s) diáspora(s) tem hoje um papel na construção de um mundo Lusófono supranacional através da dispersão, redes de contacto (networks) e cultura, e (c) se poderá haver uma ligação entre a diáspora do anterior mundo colonial, a cultural imperial portuguesa e a tentativa actual em criar uma identidade de língua portuguesa supranacional», escrevem num documento de divulgação da iniciativa Eric Morier-Genoud e Luísa Pinto Teixeira, responsáveis das duas instituições organizadoras.

Que diásporas são estas? No dizer de ambos, «as diásporas no Império da África portuguesa foram muito diversas, tal como na maioria dos impérios, em termos regionais, étnicos, religiosos ou culturais». Tinham diferentes origens nacionais e sociais e desempenharam diferentes papéis (militares, funcionários administrativos, comerciantes, intelectuais, trabalhadores, etc.). «Foram goeses e indo-paquistaneses na África oriental, chineses e suíços em Moçambique, cabo-verdianos na África ocidental, deportados moçambicanos na ilha de São Tomé, etc.»

Eric Morier-Genoud e Luísa Pinto Teixeira consideram que o fim do colonialismo «não dissolveu estas diásporas». Umas mantiveram-se sob os governos independentes, outras migraram, mas mantiveram-se no mesmo «espaço imperial» e inclusive rumaram à antiga metrópole.

Para além da abordagem «óbvia» do papel destas diásporas «estrangeiras» na colonização e descolonização do «Império Lusófono Africano», e em particular «na formação de uma cultura e imaginação, científica e popular, imperiais», a oficina de trabalho vai tentar esclarecer se, «construindo a partir do seu passado imperial, elas se tornaram a ‘vanguarda\' de uma cultura e identidade lusófonas mundiais (em vez de serem meros ‘destroços do império\' como muita da literatura secundária parece pressupor)».

Os dois organizadores da oficina admitem que «a realidade possa ser mais complexa que as categorias analíticas dos estudos sobre migração e história imperial sugerem». «A nossa hipótese é provavelmente demasiado rude para ser exacta», dizem.

«Mesmo assim, sentimos que é importante inquirir acerca do papel das diásporas na construção de uma cultura imperial e inquirir em que medida um passado marcado por uma cultura como esta (baseada numa identidade católica, uma certa cultura de política, comida e futebol) pode ainda influenciar a memória individual e colectiva destas diásporas».

Do ponto de vista das ciências sociais, esta oficina de trabalho pretende questionar e alterar a abordagem «demasiado nacionalista» dos migrantes e diásporas feita até agora pelos especialistas «em ligação com a nação de onde tinham emigrado e em (des)conexão com a nação para onde tinham imigrado».

A oficina de trabalho está organizada em quatro painéis: «História, Historiografia, Memória e a construção do Mundo Lusófono», «Diáspora e construção do Terceiro Império Português», «Diáspora e Culturas Imperiais» e «A diáspora hoje: destroços do império ou vanguarda da Lusofonia», sendo arguentes, respectivamente, Francisco Bettencourt (King\'s College, Londres), Gavin Williams (Oxford), Patricia Goldey (Universidade de Reading) e Robin Cohen (Oxford). John Darwin (Oxford) será responsável pelas conclusões, estando as boas vindas a cargo de Neil McFarlane (Oxford) e a introdução de Eric Morier-Genoud (Oxford) e Luísa Pinto Teixeira (Oxford/ CLP/IC).

Entre os participantes previstos contam-se Edward Alpers (UCLA, EUA), Michel Cahen (CEAN-Bordéus, França), Patrick Harries (Berna, Suíça), Rosa Williams (U. de Chicago, EUA), Alexander Keese (U. de Berna, Suíça), Patrícia Ferraz de Matos (ICS, Lisboa), Sheila Pereira Khan (CES, Coimbra), Jacinto Godinho (U. Nova, Lisboa), Abdul Karim Vakil (King\'s College, Londres), Margaret Frenz (U. de Leicester, Reino Unido), Sérgio Chichava (IESE, Moçambique), Shihan de Silva (Universidade de Londres) e Oliver Bakewell e Jan-Georg Deutsch (Oxford).