Número 139 · 3 de Junho de 2009 · Suplemento do JL n.º 1009, ano XXIX
Licenciatura em Português
São variadas as motivações de quem estuda numa licenciatura em Português em São Tomé e Príncipe, conforme explica a leitora do Instituto Camões no Instituto Superior Politécnico daquele país, Filipa Fava.
«A licenciatura em Língua Portuguesa (LP) é frequentada maioritariamente por professores que já se encontram em funções ou, o que é triste dizê-lo, por alunos que desejando ingressar noutro curso, não têm hipótese de o fazer», diz a leitora/formadora.
A motivação dos professores já em exercício é simples: a qualificação profissional permite-lhes receberem um aumento de salário.
A maior parte dos professores dos ensinos básico e secundário não tem formação pedagógica, muitos deles não têm sequer a 11ª classe (o ensino obrigatório é até à 6ª classe). «De facto, este é o primeiro ano em que alunos se graduam no ISP na Licenciatura em Língua Portuguesa com formação pedagógica incluída, isto é, estágio profissional», afirma Filipa Fava.
A expectativa de obter «avanços na carreira profissional» ou «ambições pessoais» constituem a motivação de outros alunos da licenciatura em LP que «trabalham em bibliotecas, nas finanças, no tribunal de contas, jornalistas, entre outros», refere Filipa Fava, que sublinha os resultados «muito díspares» dos estudantes. «As turmas são em geral muito heterogéneas, o que leva a um esforço redobrado do docente na aplicação quando possível de pedagogia diferenciada».
O ensino de Português como língua estrangeira é também feito em São Tomé no Centro Cultural Português (CCP), em cursos organizados pela leitora e por dois professores cooperantes do ensino secundário (Ministério da Educação).
Os alunos, que têm outras línguas maternas que não o português, vivem e/ou trabalham por alguma razão em São Tomé e Príncipe e «precisam de maior proficiência nesta língua». «A motivação é, nestes casos, alta e os resultados mais animadores», refere.
Filipa Fava classifica os problemas do ensino da Língua Portuguesa em São Tomé em três níveis, o primeiro dos quais «se relaciona com a situação económica e social do país: quebras constantes de energia eléctrica; baixo rendimento per capita; inexistência de recursos como bibliotecas com acervos razoáveis e livrarias (não há uma única livraria em todo o país!)».A um outro nível, a leitora do IC afirma que a inexistência do ensino das línguas nacionais ou crioulos, línguas maternas, «condiciona fortemente a aprendizagem quer de uma língua segunda, como é o caso do português, quer de línguas estrangeiras, como o inglês, o francês», a que se soma, entre outros factores, a «pouca escolarização e altos níveis de iliteracia da população em geral» e um «sistema de ensino e programas curriculares pouco exigentes». Na base, o problema da falta de recursos humanos e materiais nas escolas – professores sem formação, turmas com 80-90 alunos e falta de livros e de carteiras.