‘A nossa Agência em Cannes…’

Número 138   ·   6 de Maio de 2009   ·   Suplemento do JL n.º 1007, ano XXIX

Cinema

A Agência da Curta-Metragem (ACM) é única no seu género em Portugal. Existe há 10 anos, feitos em Janeiro passado, mas já funcionava anteriormente, em ligação com a organização do Festival de Vila do Conde. Este mês vai estar presente, mais uma vez, no Festival de Cannes, uma das etapas do circuito anual de festivais e mercados de filmes que a ACM percorre – com um financiamento em 2009 do Instituto Camões, no âmbito dos apoios à internacionalização –, na sua missão de representar, promover e divulgar o cinema de curta-metragem português.

 

Agência da Curta-Metragem«Todos os profissionais do mundo do cinema querem estar representados em Cannes e a Agência da Curta-Metragem (ACM) não fica de fora», afirma Salette Ramalho, responsável pelas vendas e promoção da agência. «Os contactos que se fazem nesse festival são preciosos», acrescenta.

 

A Cannes, ou mais precisamente ao ‘Short Film Corner’, um espaço dedicado à curta-metragem, a ACM leva de 13 a 24 de Maio o seu cuidado catálogo com as mais recentes produções da curta-metragem portuguesa por ela representados. Mas a agência vai também estar “presente” no próprio festival, porque um dos filmes por si inscritos em Cannes – Canção de Amor e Saúde (2009), de João Nicolau – foi seleccionado para a prestigiada competição da Quinzena dos Realizadores (v. caixa), que, estando «à parte do grande burburinho do festival», dele faz parte.

 

É ao ‘Short Film Corner’ de Cannes que acorrem os programadores «sedentos de novidades» dos muitos festivais de cinema que existem hoje em dia, explica Salette Ramalho. «E como a agência tem filmes – a produção portuguesa é contínua, existem sempre filmes a serem produzidos – nós vamos também levar lá os nossos filmes, os filmes portugueses».

 

O catálogo compreende o material que a ACM elege como «perfeito» e «imprescindível» para se fazer a promoção internacional da curta-metragem portuguesa, no dizer de Salette Ramalho. «É um catálogo com todas as fichas técnicas dos filmes, que inclui um DVD, com uma compilação. Essa compilação é sempre pensada de acordo com o festival ou evento a que nós vamos. É uma compilação dos próprios filmes, na íntegra, para poderem ser seleccionados pelos programadores» de festivais ou mostras ou «são mesmo adquiridos para exibição em canais de televisão».

 

A compilação em DVD, que na sua versão para Cannes engloba 5 obras, dá a conhecer Paisagem Urbana com Rapariga e Avião (Ficção, 2008), de João Figueiras, 3x3 (Ficção, 2008), de Nuno Rocha, Alpha (Ficção, 2008), de Miguel Fonseca, A Meio da Noite (Animação, 2008), de Fernando José Saraiva, e Um Dia Frio (Ficção, 2009), de Cláudia Varejão.

 No catálogo impresso de 2009, em português e inglês, da lista dos «filmes recentes», alguns produzidos já este ano, constam, entre outros, a Canção de Amor e Saúde, a animação Passeio de Domingo (2009), de José Miguel Ribeiro, e A Felicidade (2008), de Jorge Silva Melo, em que entra como actor o cineasta Fernando Lopes. Ao todo, são apresentadas aos programadores estrangeiros as fichas de 37 curtas-metragens recentes, em que os autores são portugueses ou em que há co-produção portuguesa, classificadas como de ficção (a grande maioria), documentário, animação e experimental. Já o acervo completo da ACM, dividido nas mesmas categorias, engloba presentemente 175 filmes (86 de ficção, 55 de animação, 15 documentários e 19 experimentais), segundo o catálogo. Festivais de várias formas e feitios

 

Mas, ter um bom catálogo não basta. Uma coisa é enviar um filme, outra é estar lá. Mesmo que o filme seja seleccionado, «a relação é um pouco distante, quando não estamos lá presentes», diz a responsável de vendas e promoção da ACM. É fundamental falar com as pessoas, considera. Em Cannes, como noutros festivais, tem-se acesso uma lista de profissionais presentes e é com eles que os representantes da ACM falam e se reúnem.

 

Até agora tem funcionado bem. «É precisamente pelo facto de estarmos representados em muitos festivais que nós conseguimos fazer programas retrospectivos especiais sobre o cinema de curta-metragem em Portugal», sublinha Salette Ramalho, que no entanto destaca no circuito dos festivais o papel de Clermont-Ferrand, que este ano decorreu entre 30 de Janeiro e 7 de Fevereiro.

 

«Aquilo é uma coisa gigantesca», diz, referindo-se àquele que é principal festival europeu da curta-metragem. A Clermont-Ferrand acorrem cerca de 3 mil profissionais. Catorze salas têm projecções contínuas das várias sessões de competição ou de eventos paralelos.

 

No mercado do festival, que é um outro espaço, só entram profissionais acreditados. E é nesse mercado que a ACM tem o seu stand, a que vão «as pessoas que querem conhecer a cinematografia portuguesa de curta-metragem». Além de distribuir o seu catálogo e a compilação incluída no DVD que o acompanha a «centenas e centenas de profissionais» e dos múltiplos contactos pessoais, a ACM promove para eles «uma projecção de filmes portugueses numa sala de cinema, em condições dignas».

 

O festival de Clermont-Ferrand ilustra como as coisas se passam. Foi num contacto iniciado há dois anos que o Festival de Cinema de Nice passou este ano uma mostra de curtas-metragens portuguesas agrupadas em quatro programas.

 Clermont-Ferrand foi pois o primeiro da dezena de festivais a que a ACM se propõe ir em 2009, com o apoio do IC.

A escolha dos festivais contempla «uma variedade de hipóteses de promoção grande», afirma a responsável da ACM. «Existem festivais que […] têm a possibilidade de fazer a promoção em termos geográficos, como o Festival [Internacional de Curtas-Metragens] de São Paulo [de 20 a 28 Agosto]», que convida os programadores da América Latina. Já em Tampere (Finlândia, 4-8 Março), são os programadores dos festivais nórdicos que têm uma presença maior. Depois há os festivais em formato mais tradicional, como Veneza (Itália, 2-12 Setembro), onde decorre em paralelo ao festival oficial um outro, denominado ‘Circuito-off’, que funciona como um mercado de curta-metragem para o qual são convidados distribuidores. E há ainda os grandes mercados que «têm profissionais que são um pouco mais difíceis de alcançar, como Festival de Cannes ou o Festival de Locarno [Suíça, 5-15 Agosto]». Perto de Vila do Conde, onde a ACM tem a sua sede, o ‘Curtocircuito’, um festival de curtas-metragens em Santiago de Compostela (Galiza, Espanha, 17-24 Outubro), «que tem o dom de ter algum dinheiro», «consegue trazer convidados e distribuidores de curtas-metragens e representantes de canais de televisão», explica Salette Ramalho.