A Orquestra de Jovens da União Europeia (OJUE) inicia, hoje, 10 de abril a sua primeira digressão em 20 anos aos Estados Unidos, tocando com alguns dos mais conceituados solistas de música erudita da atualidade.
Até 27 de abril, a mais importante orquestra juvenil europeia - criada em 1976 em Londres, onde tem a sua base - vai passar pela Universidade da Carolina do Norte, em Chapell Hill, pelo Kennedy Center, em Washington, onde tocará com o violinista Pinchas Zukerman, pelo auditório Stern, em Nova Iorque, acompanhando o violinista e maestro Itzhak Perlman, pelo Symphony Hall, em Boston, sendo solista o pianista Yefim Bronfman, com quem terminará o tour pelo Novo Mundo na Northwestern University, em Evanston, Illinois, não sem antes dar ainda um concerto no auditório da Universidade de Indiana, em Bloomington.
Da orquestra que vai a esta digressão pelos Estados Unidos - em cuja lista de patrocinadores e apoiantes da tour figura, entre oito entidades, o Instituto Camões -, fazem parte como membros 6 músicos portugueses, selecionados durante as audições de 2010/2011 de entre os cerca de 200 jovens portugueses que se candidataram a esta orquestra. São eles Tiago Santos (violino, n. 1988), Luísa Seco (violino, n. 1989), Joana Nunes (viola, n. 1990), António Novais (violoncelo), Vera Sá Pereira (contrabaixo) e João Seara (contrabaixo, n. 1990).
Outros 13 jovens músicos portugueses foram também selecionados no ano passado para as reservas da orquestra, que reúne instrumentistas entre os 14 e os 24 anos de idade de todos os 27 estados membros da União Europeia.
A OJUE, cujo primeiro diretor musical foi o maestro Claudio Abbado, é dirigida desde 2000 pelo maestro russo Vladimir Askhenazy.
Para além da OJUE, existem mais duas outras grandes orquestras de jovens na Europa: a Orquestra Internacional Mahler, com sede em Berlim e dirigida por Claudio Abbado, e a Orquestra dos Jovens do Mediterrâneo.
«A OJUE é considerada, pela crítica internacional, uma das melhores do mundo, pelo seu nível artístico, pelos maestros e solistas com quem trabalha e, evidentemente, pelos palcos que pisa. Era e continua a ser o sonho de qualquer jovem músico poder um dia fazer parte deste grupo», diz afirma Abel Pereira (n. 1978), que desde 2001 faz parte do júri português das audições de pré-seleção das provas de acesso à OJUE e que foi membro da orquestra entre 94 e 2000.
Números elevados
Abel Pereira sublinha que «a participação dos jovens músicos portugueses numa orquestra deste género é da maior importância», porque «a estrutura OJUE funciona ao mais alto nível, com maestros e solistas que todos nós estamos habituados a ver e ouvir somente nos cd e dvd» e o contacto com estas individualidades, «para além da aprendizagem técnica/interpretativa e riqueza cultural, pode ser uma grande mais-valia na abertura de portas no futuro, tanto a nível académico como profissional», uma vez que, «por razões geográficas e culturais, Portugal está bastante afastado do centro da Europa», onde «a convivência com os mais conceituados músicos, maestros e orquestras é permanente». Na orquestra «é dada a oportunidade aos jovens de poderem usufruir desse mundo durante algumas semanas por ano».
No universo de 100/140 músicos da OJUE, Portugal tem tido em média, nos últimos anos, 5/6 participantes efetivos e mais entre 8 e 13 como reservas, os números mais elevados de sempre e que colocam o país ao nível de Estados de maiores tradições musicais como Áustria, Holanda, Hungria, Dinamarca ou Bélgica.
O aumento das entradas na OJUE «mostra que realmente o nosso nível está a melhorar bastante», diz Dulce Brito, da Direção-geral das Artes, entidade que, juntamente com o Instituto Camões, contribui para a orquestra com uma quota anual.
A técnica da DG Artes sublinha o nível de exigência para o acesso e a manutenção dos músicos na orquestra. Mais de metade dos jovens portugueses que se candidatam à orquestra são alunos de nível superior de escolas do norte do país. Mas há também jovens oriundos da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESARTE) de Castelo Branco e de várias pequenas academias, consoante os instrumentos tocados, diz Dulce Brito.
O que possibilitou o maior sucesso das candidaturas portuguesas à OJUE nos últimos anos foram alterações no perfil dos candidatos, na explicação da técnica da DG Artes. A seleção para a orquestra está muito condicionada pelo instrumento que se toca. Os instrumentistas de cordas entram mais do que os outros. Ora, no passado, muitos dos jovens músicos portugueses começavam a sua aprendizagem pelas bandas e filarmónicas, onde predominam os metais. Hoje em dia, para além de haver mais jovens a aprender a tocar um instrumento, muitos já começam a sua formação em escolas de música, podendo optar por outros instrumentos. Em paralelo, o investimento feito na contratação de professores de música do leste europeu, nomeadamente russos e ucranianos, aumentou o nível técnico dos executantes.